Você já emprestou o nome para outra pessoa? Essa é uma prática, geralmente aceita em grandes amizades ou relações familiares, é muito arriscada. E existem dados que comprovam isso. Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com consumidores negativados, ou que estiveram nesta situação nos últimos 12 meses, mostra que 17% dos entrevistados ficaram inadimplentes por terem emprestado o nome para terceiros – principalmente para amigos (31%) e irmãos (22%).
É claro que a intenção é sempre positiva. As pessoas emprestam nome ou dinheiro sempre para ajudar quem precisa – 51% afirmaram que o principal motivo para emprestar seus dados, cartão ou cheque foi justamente esse. Contudo, essa prática obviamente não é considerada adequada para as finanças.
É triste dizer não, mas é necessário. É nisso que acredita o educador financeiro do SPC Brasil e do portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli. Como ele comenta, o dilema de quem empresta o nome a terceiros é compreensível, mas a situação raramente termina bem. “É difícil dizer não a amigos ou parentes, mas é preciso lembrar que talvez essa pessoa esteja pedindo ajuda porque não pôde comprovar sua renda ou então porque não conseguiu pagar uma dívida anterior. Seja qual for o motivo, o risco de que não consiga honrar o compromisso sempre existe”, afirma. Ou seja, quem pede dinheiro, dados ou nome emprestados tende a ser um endividado.
Finanças em risco
De acordo com a pesquisa, 49% dos entrevistados sabiam o valor que seria gasto em seu nome por terceiros. No caso de outros 18%, o dinheiro utilizado foi além do que havia sido acordado. E não termina aí: 32% não tinham conhecimento do valor utilizado.
Em 41% dos casos a dívida foi paga exclusivamente pela pessoa que emprestou o nome e em apenas 3% as pessoas que usaram o nome pagaram integralmente a dívida deixada por terceiros.
E agora?
A vida de quem empresta o nome costuma ficar complicada. Considerando os inadimplentes que emprestaram o nome e pagaram ao menos parte da dívida (47%), 56% deles tiveram que fazer algo para conseguir limpar o nome – principalmente economizar e cortar alguns gastos (36%).
Outra opção foi usar parte da reserva financeira (11%), sendo que a média da dívida corresponde a R$ 1.215. A pesquisa ainda mostra que 43% dos entrevistados que emprestaram o nome e fizeram ao menos parte do pagamento não cobraram o devedor.
Por que não devolveu?
Naturalmente, falta de dinheiro é a principal justificativa para quem pega emprestado e não paga – 33% justificaram que essa foi a causa. Em 19% dos casos, a pessoa desapareceu e não tem como ser cobrada. Obviamente, a relação pessoal ficou abalada em pelo menos 69% desses casos.
Apesar dos transtornos gerados pela atitude de emprestar o nome para terceiros, 24% dos entrevistados fizeram isso mais de uma vez, principalmente para evitar mágoas. Vignoli acrescenta que é importante pensar bem antes de aceitar o pedido: “Não se deve tomar uma decisão dessas sem antes considerar cuidadosamente a questão. Você tem o dinheiro para honrar a dívida, caso a pessoa que pediu seu nome não possa pagar? Se a resposta for não, você é quem ficará inadimplente, tendo de enfrentar a restrição ao crédito e todos os transtornos relacionados a essa situação”.
Antes de emprestar o nome, pense:
– O inadimplente não pode financiar veículo ou imóvel, fazer um empréstimo, adquirir cartão de crédito e contratar serviços como plano de TV por assinatura ou celular pós-pago;
– Não há garantias legais para quem empresta o nome. A dívida, perante a justiça, pertence a quem emprestou e não a quem realizou a compra de produtos ou serviços;
– A inadimplência pode causar danos emocionais e prejuízos à saúde física, incluindo estresse, alterações no sono e no apetite, por exemplo;
– O inadimplente pode ser acionado judicialmente, o que resultará em custos processuais, além da dívida propriamente dita;
– O país atravessa a mais grave recessão de sua história recente, com alto índice de desemprego e endividamento das famílias. Pessoas que atualmente atravessam dificuldade financeira para se recuperar. Isso significa que este é um momento especialmente desfavorável para emprestar o nome.
O estudo
A pesquisa entrevistou 602 consumidores residentes em todas as regiões brasileiras, com idade igual ou superior a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais, atuais inadimplentes ou ex-inadimplentes há no máximo 12 meses. A margem de erro é de 3,99 pontos percentuais para uma confiança de 95%.