Pense rápido: qual foi o motivo que levou você ou um amigo a trocar o táxi pelo Uber? É bem provável que o principal argumento (senão o único) seja o preço. Sem dúvida, isso ajuda a explicar a ampliação do serviço, mas não explica o motivo ou “gap” que resultou na criação do aplicativo.
Recentemente, o Senado Federal promoveu um estudo (DISPONÍVEL AQUI)entender o impacto do táxi e do Uber na cidade. E o principal argumento foi: o Uber atacou a falta de oferta do transporte individual, especialmente no momento de maior necessidade (leia-se na hora do rush e em meio a um grande temporal, por exemplo).
O estudo “culpou” a baixa oferta a uma política de limitação de licenças para táxis, que poderia ser explicada com base em cinco argumentos: ausência de mercado competitivo; assimetria informacional; impactos no congestionamento e poluição; necessidade sistêmica de subsídios cruzados; e prevenção de concorrência predatória. A seguir, o que significa cada um dos argumentos.
1 – Mercado competitivo
Diz respeito à falta de concorrência intrínseca dos pontos de táxi. Trata-se de um clássico exemplo de teoria das filas, onde o primeiro táxi que entra na fila é também o primeiro a sair do outro lado. Assim, o cliente – que por sua vez também está sujeito ao mesmo procedimento de filas – não tem poder de barganhar o preço com o táxi que lhe foi alocado. Além disso, os clientes de fora da cidade não têm como avaliar qual o valor seria justo pela corrida oferecida.
2 – A assimetria informacional
É a incapacidade dos clientes saberem de antemão o valor das corridas dos táxis antes de neles embarcarem, impediria um dos pilares de um mercado perfeito, que é justamente a possibilidade de comparação de preços.
3 – Impacto no congestionamento e poluição
Um eventual processo de liberalização do número de táxis poderia, de acordo com os defensores da limitação do número de licenças, causaria impacto negativo no congestionamento e na poluição, uma vez que um volume muito grande de novos táxis passaria a circular pelas ruas em busca de uma demanda fixa. Um argumento excessivo e pouco plausível, seja pela pequena proporção da frota de táxis em face do volume total de veículos em circulação, ainda que houvesse desregulamentação do setor; seja porque, mesmo nas áreas centrais, os custos com combustível e manutenção criam desincentivo econômico para que os veículos de aluguel trafeguem sem passageiros pagantes.
4 – Subsídio cruzado
É proposto ante à necessidade de que as corridas que envolvem o atendimento a áreas mais afastadas (e por vezes mais pobres) da cidade sejam cobertas por corridas nas áreas mais centrais, de mais alta densidade e, por conseguinte, de maior rentabilidade. Uma eventual liberalização do mercado faria com que houvesse mais táxis nas áreas centrais, na prática, inviabilizando o subsídio cruzado.
5 – Concorrência predatória
Ocorreria pela pouca barreira econômica e de formação para se operar um táxi. Sabe-se que custo de um taxista, basicamente, consiste no aluguel de um carro e sua manutenção. Tem ainda a habilitação do tipo “B”, a mais comum. Nesse cenário, em um momento de recessão, como é o atual, os desempregados seriam tentados a dirigir um táxi, o que saturaria um mercado que já se encontra retraído pelo próprio ambiente macroeconômico, e reduziria drasticamente, por conseguinte, a renda da categoria, inviabilizando o fundamento econômico do próprio sistema. Em um ambiente de expansão, haveria o cenário inverso, e novas e melhores ofertas de emprego reduziriam o número de táxis nas ruas, em um momento em que o aquecimento econômico produziria um aumento da demanda por corridas.