Para enfrentar a crise, a Selfridges, uma das maiores redes de magazines do mundo, resolveu criar um departamento em que aluga roupas de luxo. No mesmo caminho, a Ikea, empresa de origem sueca e uma gigante do ramo da decoração e dos utensílios para casa, estuda abrir um espaço de aluguel de móveis na Holanda. Carros, motocicletas, bikes, acessórios fashion… Chegamos no ponto em que basicamente tudo que não é perecível pode ser alugado. E sabe qual é o impacto da pandemia nessa economia do compartilhamento? Ela só fez acelerar essa procura por usar e não possuir.
A tendência já era verificada entre os millennials, os grandes consumidores hoje da Economia do Compartilhamento. Mas essa maneira de ver o mundo também é a da GenY e deve se consolidar num futuro próximo onde as crises ambiental, climática, financeira, política e de saúde (no caso desta e de outras possíveis pandemias) se tornem uma realidade. O valor do ter foi substituído pelo valor do experimentar: em uma reportagem recente do site inglês “The Guardian”, por exemplo, fica provado que os mais jovens querem testar outros tipos de produtos e não se importam de pagar um aluguel para isso – ao contrário de quem está acima dos 40 anos de idade.
Como resultado, na Inglaterra, uma das principais lojas de departamento, a John Lewis, cuja sede fica na mítica Oxford Street, colocou móveis como sofás, escrivaninhas e mesas para serem alugados como parte da nova estratégia de negócios da empresa. Se por aqui, em terras brasileiras, essa hipótese gera estranhamento, basta saber que uma mesa pode ser alugada por lá a partir de 17 libras mensais, em contratos de 12 meses. Quer cadeiras? Pois peças de design custam a partir de 12.
Já na Selfridges, que disponibilizou o serviço de guarda-roupa compartilhado através da plataforma Hurr Collective, há 40 marcas de luxo para seus clientes escolherem, entre elas Burberry, Dior e Bottega Veneta, inacessíveis para a maioria dos mortais em seus preços cheios. Os aluguéis das roupas variam em temporadas de 4 a 20 dias. “O futuro da moda é um guarda-roupa alugado”, disse Victoria Prew, criadora da plataforma, para a “Harper’s Bazaar” UK. “Alugar é uma forma divertida de acessar a moda por uma fração do preço”, completou a executiva fashion.
Sustentabilidade conta
Além da clara mudança comportamental verificada no pós-pandemia (se é que se pode chamar o atual momento de posterior à contaminação em massa), há outro fator que está influenciando essa posicionamento de mercado voltado para o aluguel de produtos, ao invés da venda pura e simples. Ele é, claro, a questão ambiental. Esta é a atual ambição da Ikea, por exemplo, que quer usar apenas material 100% reciclado para fazer seus produtos: Pia Heidenmark Cook, diretora de sustentabilidade do maior varejista de móveis do mundo, reforça que “as pessoas já começaram a conectar suas escolhas individuais com o declínio da biodiversidade e mudanças climáticas”. Ou seja, para uma empresa que fatura 45 bilhões de euros por ano fazer esse movimento, é porque o caminho do compartilhamento ao invés da produção em massa já se mostra algo sem volta.
No Brasil, essa tendência de aluguel de produtos ainda está devagar. Há muito que avançar nessa área, mesmo que carros e roupas (inclusive de luxo) já possam ser alugadas em grandes centros do país. Mas o movimento ainda está à margem e o conceito de possuir por algum tempo – e não definitivamente – ainda não agrada aos brasileiros. Até porque, em 2013, o país ocupava o quarto lugar entre os mais consumistas do mundo, ficando atrás apenas China, Índia e Turquia, de acordo com ranking feito pela pesquisa global Ipsos e publicado pela revista “Exame”. Com Covid-19 ou sem a mudança está em curso. Quem souber achar oportunidades de negócio não deve se arrepender.
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