Se você já largou o celular de lado, desligou a TV ou o rádio, ou fechou o computador com aquela sensação de “Chega!”, há grandes chances de estar se tornando um “evitador de notícias“. A enxurrada de informações sobre a pandemia de coronavírus, tão consumida nos primeiros meses do surto – certamente contribuiu para essa exaustão das pessoas, que simplesmente não aguentam mais notícias ruins.
Ainda que seja muito necessária para manter a população informada corretamente sobre o avanço da Covid-19 – esse rio contínuo de informações potencializou o que muitos especialistas já chamam de “fadiga da informação”. Antes muito relacionada à seara da política, agora ela já é um movimento praticamente generalizado. Segundo os próprios analistas do tema, tem aumentado o número de pessoas que estão “evitando notícias” – o que claro, só pode acontecer em países onde a imprensa é livre. Ditaduras que controlam a mídia não entram nessa conta.
A News Avoidance, como é chamada em inglês, foi tema de um grande artigo publicado pelo site britânico Journalism.co.uk no último mês de julho. Ele defende que leitores, ouvintes e telespectadores possivelmente chegaram ao limite de notícias que conseguem consumir. Esse comportamento, que começou a ser desencadeado pelo uso das redes sociais no mundo todo, agora não está mais restrito a elas e a seus conteúdos muitas vezes sem relevância. A combinação de alta produção de informação mais a disponibilidade em tempo real, a todo momento, de consumi-la, invadiu o dia a dia das pessoas, antes acostumadas a consumir notícias em algumas ilhas de tempo – como quando ligavam a TV para ver telejornais ou escutavam o rádio; ou ainda quando entravam em algum site específico. O movimento de buscar a informação vinha delas.
O resultado dessa presença constante das notícias? Em 2019 uma pesquisa já mostrava que ao menos no Reino Unido, 35% das pessoas evitava saber sobre elas. Os news avoiders (ou evitadores de notícias) são pessoas que deliberadamente não consomem esse tipo de conteúdo por ele afetar diretamente, seu estado de espírito, seu humor e seu rendimento no resto do dia. Em uma pesquisa realizada em 2017 pela Universidade de Oxford em parceria com a agência Reuters, 48% dos entrevistados apontou essa a maior causa para não entrar mais em contato com esse tipo de conteúdo.
Em segundo lugar, com 37% das respostas, estão as pessoas que não se interessam por notícias porque, segundo elas, não confiam nos veículos que as publicam. E em terceiro ponto, para 28% dos entrevistados desta enquete, o consumo das informações apenas ressalta que eles não pode fazer nada a respeito. E essa sensação de impotência é muito potencializada. Entre os temas mais evitados estão a política (que é incompreensível para a maioria das pessoas no geral) e a própria cobertura da Covid-19).
Crise para o jornalismo ou para as redes sociais?
Em um artigo publicado recentemente sobre o tema pela jornalista Ana Brambilla, PhD em Comunicação Digital e professora do ISE Business School de São Paulo, o aumento no número de quem não quer mais saber das notícias jornalísticas, como elas vêm sendo veiculadas há anos, mostra uma clara necessidade de mudança no formato. “Mais do que desgastada, a política que pauta a pesada maioria das notícias se mostra muito distante da vida cotidiana destas pessoas”, diz ela no texto.
Trata-se de mais uma crise para o jornalismo enfrentar (além da financeira, que já está aí há anos). E como o assunto política ganhou mais e mais espaço nos últimos anos, não só no Brasil (fala-se de Brexit, eleições nos EUA, polarização, etc), a ideia de que política e jornalismo estão virando a mesma coisa passou a se firmar no entendimento do público. O que, de novo, só afasta as pessoas. “O desinteresse pela política vazou para o jornalismo e o contaminou. Já que o jornalismo insiste em fazer notícia sobre si e para as fontes, a lógica diz que o desinteresse pelo jornalismo é o mínimo que se poderia esperar das audiências!”, reforça ela no texto.
Na pesquisa da Reuters, o Brasil figurava em 18º lugar no ranking de países com maior número de “news avoiders”. A lista era liderada pela Turquia e seguida por Grécia, Croácia, Polônia e Chile. Já quando o assunto são as redes sociais, as pessoas entendem mais facilmente que podem apenas “parar de seguir” quem está causando incômodo. Há também um movimento de desconexão que faz sucesso tanto entre os millennials quanto com a Geração Y. Estes últimos estão mais interessada em produzir conteúdos descompromissados, como os encontrados no Tiktok, ou desejam estar totalmente fora das plataformas mesmo. Estima-se que cerca de 30% dos millennials conectados no Brasil devem se tornar “logged off”, segundo pesquisa da Infobase, plataforma de TI que atua no país.
E você, tem evitado consumir notícias ou pretende se desconectar?
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