Este é um momento oportuno e histórico para que empresas discutam melhores práticas e ações dentro da temática de solidariedade. No CONAREC 2020, o painel “Empresas solidárias: melhores práticas e ações para o bem comum”, mediado por Anderson de Souza Sant’anna, professor da FGV-EAESP, trouxe a tônica das questões de igualdade e representatividade corporativas em meio à Covid-19.
“Estamos no centro de um momento histórico, que traz uma aceleração, catalisando uma série de tendências. É um momento oportuno para analisarmos os legados, para pensarmos diferente as relações indivíduo-trabalho”, diz o professor.
De dentro para fora
Para a BRF, que está presente até em comunidades altamente vulneráveis, a área de diversidade se faz extremamente importante, para que a empresa se conecte de forma mais intensa às realidades das pessoas que a compõem.
“O que percebi nesse período de Covid-19 é que o tema de diversidade está cada vez mais presente em todas as falas. Estamos falando de algo muito importante, como a saúde mental dos colaboradores”, coloca Leila Luz, global diversity & inclusion leader da BRF.
Ela também chama a atenção do público para a importância dos líderes estarem educados para essas múltiplas realidades e dificuldades sociais, para que sejam chamarizes da mudança dentro de suas equipes.
“O gestor, como líder, deve corrigir as questões básicas de diversidade que envolvem a empresa” – Leila Luz, global diversity & inclusion leader da BRF.
Patrícia Menezes, diretora de marketing de family care da Kimberly-Clark concorda e complementa: “Enquanto empresa, é fundamental olhar para os próprios funcionários antes de qualquer discurso. Se você não olhar para dentro, como você irá falar ou fazer algo para a sociedade, sendo que você não pratica isso dentro de casa?”, questiona.
A Kimberly-Clark, em 2019, abriu uma chamada pública, convidando startups que conheciam soluções de saneamento para receberem mentoring e desenvolverem habilidades em áreas que ainda não tinham. De forma surpreendente, mais de 80% dos colaboradores da empresa decidiram entrar como voluntários-anjo dentro do projeto, para também aprenderem novas skills e colaborarem com o desenvolvimento sanitário do Brasil.
“Aprendemos com esse tema do saneamento que o problema está muito além da dignidade humana. Por exemplo, muitas mulheres sofrem assédio ao não terem banheiro e terem que se expor em público”, conta Patrícia.
Assim, a Kimberly-Clark ofereceu capital-semente para que essas startups selecionadas expandam seus projetos e tragam mais visibilidade ao tema no saneamento.
“A grande força da mudança precisa passar por dentro das corporações, uma vez que é muito difícil uma empresa transparecer aquilo que ela não é” – Patrícia Menezes, diretora de marketing de family care da Kimberly-Clark.
Suporte para profissionais de saúde
A área da saúde é uma das que mais tem enfrentado dilemas na pandemia, já que a maior parte dos colaboradores trabalham na linha de frente. No Hospital Israelita Albert Einstein, o papel dos líderes, desde o início, é transmitir segurança para que os funcionários recebam cuidados e se sintam seguros para trabalhar ― e em termos não só de saúde física, mas também de saúde mental.
“Fornecemos todos os recursos para que colaboradores pudessem evitar o contágio, não somente no trabalho, mas também em casa, nos preocupando se eles teriam ou não condições de fazer a aquisição dos itens básicos de proteção”, diz Claudia Regina Laselva, diretora de operações e de práticas assistenciais do Hospital Israelita Albert Einstein.
O Hospital também ofereceu um hotel próximo às suas instalações para os colaboradores que tinham idosos em casa e não podiam voltar, com medo de contamina-los, além de creche próxima ao trabalho para aqueles que têm filhos.
“Neste momento, as empresas de saúde precisam se unir, sejam elas competidoras ou não. A solidariedade entre os diversos setores e instituições de saúde é o mais importante agora” – Claudia Regina Laselva.
A expansão da diversidade
A Magazine Luiza foi um exemplo de empresa que viveu na pele, de forma objetiva, a importância do apoio aos funcionários em situação de vulnerabilidade, uma vez que passaram pelo assassinato de uma colaboradora pelo próprio marido.
Patricia Pugas, diretora executiva de gestão de pessoas da Malu, comentou no painel que na empresa existe a prática forte dos valores de que acreditam. “A violência da mulher é uma grande bandeira da Magazine Luiza, por sermos uma empresa de nome e alma femininos”, comenta.
O caso da funcionária ocasionou um movimento interno na empresa, de apoio para as mulheres, para então lançarem campanhas externas, como o botão de pânico dentro do aplicativo.
“Vivemos esse mesmo espírito na pandemia, não perdendo de vista nosso propósito, que é levar ao acesso de muitos o que é privilégio de poucos” – Patricia Pugas, diretora executiva de gestão de pessoas da Magazine Luiza.
Carlos Pignatari, head de impacto social da Ambev, complementa a fala de Patricia Pugas ao explicar que as empresas precisam desenvolver a empatia como soft skill, deixando claro que, sim, ela pode ser aprendida e fortalecida.
Além disso, ele coloca que pandemia impulsionou a expansão das áreas de diversidade e inclusão nas empresas, que já existiam há muitos anos, mas que se tornaram cada vez mais relevantes, já que a insegurança da crise causou um impacto totalmente voltado à humanidade nas corporações.
“Quanto mais uma companhia leva em conta seus indicadores sociais, mais sucesso ela tem. Vários estudos mostram isso hoje em dia, e nesse momento de pandemia, as empresas que já tinham transparência de cuidar da sociedade se posicionaram muito melhor” – Carlos Pignatari, head de impacto social da Ambev.
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