O começo de 2021 está repleto de relatórios e materiais de estudo sobre como a pandemia de Covid-19 afetou o mundo e, em especial, a vida particular das pessoas. Um dos mais importantes neste sentido é o Ideas Report, criado pelo WeTransfer. Ele focou, entre outras coisas, em como o confinamento e a radical mudança de rotina impactaram a nossa criatividade no trabalho.
A pesquisa foi feita com cerca de 35 mil pessoas do mundo todo para que respondessem como a Covid-19 tinha afetado suas ideias criativas. Ainda que muita gente tenha sentido a saúde mental balançar com tantas demandas e mais o confinamento, o report trouxe um número importante: mais de 45% dos entrevistados se sentiram mais criativos em 2020 do que no ano anterior. E entre as pessoas que assumiram novos trabalhos e cargos no ano da pandemia, cerca de 66% disseram se sentir mais criativos nesse desafio do que estavam anteriormente.
Criatividade e zona de conforto
Uma das teorias levantadas pelo material é a de que o home office, ou o trabalho remoto feito em massa, pode ter dado insights diferentes para o cérebro dos criativos. Tanto que muita gente, inclusive no Brasil, gostaria de manter o ritmo de entregas feitas em casa e só pisar no escritório uma ou duas vezes na semana.
Outra informação que vem com esse estudo é a de que sair da zona de conforto pode ser essencial para as pessoas fomentarem a criatividade. E foi exatamente disso que a pandemia de Covid-19 obrigou a todos fazerem: reverem seus conceitos de vida pessoal e profissional.
Apesar do chamado “novo normal” ter pedido poder de adaptação de grande das pessoas, quando foi pedido aos entrevistados para classificarem o ano de 2020, cerca de 35% disseram se sentir mais gratos do que antes e, pasmem, cerca de 20% dos respondentes se sentiram mais animados e eficientes, ainda que tivessem de lidar com adaptações.
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Boas ideias vêm de onde?
No mesmo relatório feito em 2018, muita gente apontou que as pressões excessivas do trabalho, ou seja, as cobranças desnecessárias, atrapalhavam na hora de ter ideias criativas para resolver os problemas. Se comparado com os dados de 2020, fica claro que esse ambiente profissional ultracompetitivo é muito pior para que o cérebro pense em novas saídas do que as alterações de vida trazidas pela Covid-19. E com a nova rotina imposta por confinamentos que vão e vem, teletrabalho e distanciamento social, o trabalho em si, que foi nos últimos dois anos a ocupação prioritária da vida dos entrevistados pelo relatório do WeTransfer, se tornou responsável no ano passado por receber apenas 25% de atenção.
Em outras palavras, isso quer dizer que as pessoas colocaram, pela primeira vez em tempos, seu bem-estar pessoal em primeiro lugar. Buscar cozinhar melhor, dormir bem e se exercitar regularmente viraram tendências de comportamento e de buscas na internet. Reaver laços com amigos e família e cuidar da saúde mental também se tornaram prioridades. Em números, 46,4% dos entrevistados disseram que a pandemia os fez refletir mais sobre o que desejam da vida – e por consequência como querem usar sua criatividade para chegar lá.
Igualdade de gênero: ainda falta
Vale ressaltar que quando o assunto é a questão de gênero, todo o otimismo que o documento apresenta fica para trás. Os sentimentos de incerteza despertados como reflexo da pandemia atingiram a todos, mas em especial as mulheres, que estão mais propensas a serem demitidas e a se preocuparem com o futuro.
Isso tem impacto direto em suas ideias criativas e em números, dentro do universo de entrevistados, isso significa que 42% delas se questionam quanto às suas habilidades. No caso dos homens, apenas 29% deles tiveram o mesmo sentimento, o que reflete diretamente as pressões às quais elas estão mais suscetíveis. É a “velha” Síndrome da Impostora atacando também quando o assunto é criatividade.
Por fim, o relatório ressalta que, em tempos de pandemia, a criatividade das pessoas veio mesmo do contato – ainda que através de telas – com os outros, já que a liberdade de ir e vir muitas vezes estava cerceada. Diferentemente de 2018, quando a maioria dos entrevistados respondeu que tirava insights de suas interações com o mundo real – indo ao cinema, a museus ou viajando, em 2020 essas inspirações vieram mesmo das conversas.
Quase 49% dos entrevistados responderam que amigos e família são suas maiores fontes de inspiração, e outros 40% afirmaram que buscavam em algum contato com a natureza a criatividade que precisavam. “À medida que desaceleramos, olhamos para dentro e percebemos que tudo de que precisamos está talvez mais perto do que pensamos”, diz o material.