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A série “Bridgerton” e quando o “revisionismo histórico” vai em busca da diversidade

A série “Bridgerton” e quando o “revisionismo histórico” vai em busca da diversidade

O acerto de contas com parcelas da sociedade apagadas da História começa a virar tendência em séries e filmes dos canais de streaming

Bridgerton” é a série mais recente da Netflix a causar comentários e buzz nas redes sociais. Não é apenas a química entre o casal protagonista que chama a atenção – Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor) e Simon Hastings (Regé-Jean Page). Ele, inclusive, sendo apontado por fãs como um candidato à vaga de James Bond nos novos filmes da série, o que faria dele o primeiro ator negro a interpretar 007 -, mas também retrato de uma corte inglesa montada por nobres com título de duque e visconde que são pessoas negras.

Baseada na série de livros de Julia Quinn, a produção caiu nas mãos de Shonda Rhimes, roteirista negra e atualmente uma das mais importantes do cenário do entretenimento norte-americano. Shonda é a criadora de sucessos como “Grey’s Anatomy”, “Scandal” e “How To Get Away With a Murder”, todas atrações estreladas por mulheres negras – no caso de “Greys”, não, mas essas personagens são as principais coadjuvantes. Shonda é conhecida por fazer o “color-blind test” quando compõe o elenco de suas produções, ou seja, ela pede às agências que enviem atores dos mais variados tipos físicos e não coloca atributos de aparência para cada personagem antes de ver os testes acontecerem. 

Leia também: Como as plataformas de streaming estão impactando o comportamento de consumo 

O trunfo de “Bridgerton”

Escrita por sua empresa de produção de séries, a ShondaLand, na pessoa de seu braço-direito, o roteirista Chris Van Dusen, “Bridgerton” segue no streaming a saga da família homônima criada por Julia, mas vai adiante. Foi de Shonda e sua equipe que veio a ideia de apresentar a Rainha Charlotte, mulher de George III, monarcas que estavam no comando da Inglaterra entre 1811 e 1820, quando se passa a narrativa, como uma mulher negra, acompanhando especulações históricas que se baseiam na ascendência africana da mandatária, que tem origem na realeza portuguesa. A família real britânica nunca se pronunciou oficialmente sobre esses rumores acerca de Charlotte, nem mesmo agora que a atração da Netflix segue fazendo sucesso mundo afora. Mas os ânimos ficaram divididos e, vergonhosamente, teve gente que fez campanha de boicote à “Bridgerton” quando ela entrou no ar, no finalzinho de 2020. 

O movimento de tentar evitar que a série fosse vista, ocorrido principalmente no Reino Unido, não afetou em nada o sucesso da produção. Ela é a mais comentada desse começo de 2021 e teve cenas que viraram meme na internet, além de ter conquistado uma nova legião de fãs. Deve ter segundas, terceiras e quartas temporadas garantidas, já que, ao todo, a série de livros tem nove volumes e conta a saga de todo o clã Bridgerton.

Mas, mais do que isso, o grande trunfo da atração foi mesmo colocar personagens negros em papéis de importância social, hierárquica e financeira na trama. Em outras palavras, quem manda e desmanda na Londres daquela época é uma rainha negra, um duque riquíssimo – também negro -, e é na casa de uma outra nobre dama da sociedade negra que as mulheres se reúnem para jogar e falar mal de seus casamentos arranjados. 

O preconceito racial não entra em questão em Bridgerton, e isso chama a atenção também. É como se os autores estivessem dando a esses personagens a oportunidade de serem os heróis, os protagonistas, sem que a questão da pele seja imperativa. A série é mais um exemplo de como, nos últimos anos, a pressão por maior diversidade de corpos, rostos, raças e narrativas ganha cor e voz – e como aconteceu com o fenômeno “Pantera Negra” nos cinemas, o público está adorando. 

Há outras séries que seguem por esse caminho de ora incorporar personagens negros à trama, como se eles “naturalmente” fizessem parte desse contexto (e não tivessem sido apagados da História) – como fez “Bridgerton” ou a atração “The Spanish Princess”, da HBO, sobre a princesa espanhola Catarina de Aragão. Mas há aquelas dedicadas a trazer fatos, baseados na realidade, que comprovam como certas narrativas nunca foram contadas. É o caso da série de cinco filmes “Small Axe”, que narra a chegada de imigrantes caribenhos ao Reino Unido entre os anos de 1940 e 1970; ou ainda “O Amor de Sylvie”, um drama de época – da década de 1950 – que tem como protagonistas um casal negro e está disponível na Amazon Prime Video. 

Quebra de estereótipos

Esse chamado “revisionismo histórico” ficcional não pretende apagar o que ocorreu na História, com H maiúsculo. Bem longe disso. Essa parece ser muito mais uma forma encontrada para autores contarem as narrativas de maneira a incluir quem sempre ficou de fora, como se nunca tivesse feito parte ou existido no desenvolvimento do mundo. E essa tendência não deve se ater apenas à questão racial. A busca por igualdade entre homens e mulheres também seguirá batendo forte como incentivo, bem como as discussões de gênero, que agora podem chegar até mesmo à origem e ao modo de vida dos povos Vikings. 

O ponto de partida mais recente para essa chamada “quebra de estereótipos” sobre eles é um novo estudo do historiador britânico Neil Price, que virou o livro “Vikings – A História Definitiva dos Povos do Norte” (em tradução livre, já que a obra ainda não chegou em português ao Brasil). Nela, o especialista em Escandinávia desmente pontos que você provavelmente deve ter visto na famosa série “Vikings”. Price defende que esse povo era bem menos bárbaro do que se conta até hoje, e apreciava a arte.

A questão da identidade queer também estava presente. Em entrevista sobre o livro, o especialista já disse que a fluidez de gênero não era nada incomum entre os grupos vikings, algo jamais retratado nas tramas sobre eles. Até porque Odin, o grande “deus” pagão nórdico, não tinha identidade binária reconhecida. As identidades, segundo ele, se estendiam “ao longo de um amplo espectro que ia muito além da lógica binária do sexo biológico, e até mesmo além do que se chamaria de humano”, disse o autor em entrevista ao “El País”. Isso porque na idolatria nórdica, era comum que homens se transformassem em animais como ursos ou lobos. Há resquícios de esqueletos de vikings encontrados que provam que homens tinha sido enterrados com vestes femininas e que muitas “bruxas” dos grupos, naquela época, eram na verdade homens travestidos. 

Se um dia essa história vai chegar às telas ainda não se sabe. Mas que novos capítulos do nosso passado vêm por aí, muito mais inclusivos, isso já podemos ter certeza.


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