Desde o início da pandemia, o comércio brasileiro entendeu que a crise sanitária exigiria sacrifícios. Interrompeu suas atividades, fechou as portas e segurou o máximo que pode. Quando a situação se amenizou, os empresários reabriram cumprindo todos os protocolos de segurança. Certos negócios tiveram a chance de investir em novas tecnologias e oferecer alternativas aos consumidores, reforçando a segurança e colaborando para que a população não saísse de casa. Agora, na segunda onda, a massa empreendedora brasileira paga novamente o preço de ter fechado as portas, com o agravante de não poder contar com recursos que flexibilizem suas contas.
A previsão é que, se nada for feito logo, as falências vão gerar um movimento falimentar do próprio País.
“Não existe almoço de graça”, lembra o presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), George Pinheiro. “O comércio não é estúpido de achar que tem que abrir tudo como se nada estivesse acontecendo. O que estamos colocando é que é preciso que haja um equilíbrio“, enfatiza o executivo em referência ao manifesto “A Falência do Comércio Será a Falência do Brasil” assinado por 21 entidades nacionais e locais de São Paulo.
O manifesto, publicado em diversos jornais e meios eletrônicos nesta quinta-feira (15), pede urgência para se equilibrar saúde com a sobrevivência do comércio e frisa o papel do comércio para o funcionamento da indústria nacional e os trabalhadores.
O cenário do varejo brasileiro
“Só de lojas dentro de shoppings, são 154 mil em torno de 1.560 shoppings. Pelas nossas últimas informações, mais de 20 mil fecharam e não voltarão. Existem milhares de lojas de rua que não conseguem mais cumprir suas obrigações com aluguéis e funcionários – e existem milhares de empresas de bares e restaurantes que não reabrirão mais”, alerta o presidente da CACB.
Em relação a bares e restaurantes especificamente, uma pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) realizada no começo do mês aponta que mais de 90% do setor enfrenta problemas para pagar salários – sendo que 76% dos negócios já tiveram dificuldades para pagar a folha de março. Além disso, 73% tiveram de demitir empregados nos três primeiros meses do ano – um reflexo do faturamento baixo e do endividamento alto.
Como lembra o Pinheiro, da CACB, quando a primeira onda de Covi-19 começou a afogar os brasileiros, o comércio nacional foi o primeiro setor a se posicionar e trabalhar junto ao governo para coordenar as medidas econômicas direcionadas à segurança do emprego e bem-estar dos cidadãos. Por meio de suas entidades, o comércio colaborou com a confecção dos projetos que as esferas federais aprovaram para minimizar os estragos da catástrofe, como auxílio emergencial e ajuda ao empresariado.
“O que está acontecendo agora é que milhares de empresas que ficaram praticamente todo o ano passado fechadas sem condições de cumprir compromissos com os próprios funcionários e própria família – pois empregam também seus familiares – não conseguem sobreviver agora. É necessário que a gente tenha um estado que ajude as empresas a pagarem as contas”, esclarece George Pinheiro.
“Da mesma maneira que o governo fez para ajudar as pessoas físicas, é evidente que também precisa fazer com que as empresas tenham recursos para sobreviver”, compara ele.
Contudo, o executivo ressalta que diferentemente de transferências de recursos à empresas – como vem acontecendo em países da Europa e nos Estados Unidos – , o empresariado brasileiro não pede mais que empréstimos para aguentar a segunda onda. “O que os empresários estão pedindo são empréstimos.”
À espera
A recuperação da economia depende das empresas funcionando. Mas, conforme a pandemia se estende, o empresário brasileiro se depara com falta de incentivo fiscal, aumento de impostos e a discrepância entre oferta de crédito e real necessidade de recursos das empresas nos mais diversos setores do comércio. E mais: milhões de empresas ainda têm as dívidas de 2020 para pagar.
“Temos absoluta consciência do conhecimento do governo”, diz Pinheiro sobre a reunião da CACB com a esfera executiva nesta semana. “Mas não tem o que fazer até o final do mês, quando as discussões políticas se resolverem e no primeiro momento voltem a ter as facilidades dos empréstimos de recursos que as empresas recebem dos bancos”, explica o presidente da confederação das associações comerciais e empresariais.
O pedido de urgência do manifesto do setor comercial brasileiro se refere basicamente a uma ação coordenada dos governantes em duas frentes. Uma é a espera de mais de dois meses de uma nova MP dos salários que permita a suspensão de contratos ou redução de jornada – com a contrapartida do BEm, o benefício emergencial. A outra – que agrava a situação do setor de bares e restaurantes – é a demora da prorrogação do prazo de carência do Pronampe, a principal linha de crédito para micro e pequenas empresas.
A prorrogação por três meses já foi aprovada pelo governo, mas os bancos têm autonomia para aderir ou não à decisão. A Caixa Econômica Federal, que é ligada ao governo, é o banco que mais abre concessões de empréstimo pelo programa, mas ainda não liberou as prorrogações.
“Tem que entender que se o governo não tomar uma decisão, a falência do setor será a falência do Brasil”, alerta Pinheiro. “Mas, não há o que fazer a não ser esperar.”
O manifesto
“A falência do comércio será a falência do Brasil”, publicado nos principais jornais e veículos eletrônicos do País traz o seguinte alerta:
“A economia não sobrevive ao comércio fechado. Isto é um fato. Comércio e serviço são quase 70% dos empregos formais. E desde o início da pandemia, estabelecimentos fechados e ainda mantendo o pagamento de impostos foram a regra em todo o Brasil. Em São Paulo capital, o fechamento já acumula mais de quatro meses.
O resultado foi que milhares de estabelecimentos fecharam em definitivo e já falta trabalho para 32 milhões de pessoas em nosso País.
Até quando!?
O comércio é como uma locomotiva que puxa muitos vagões. Se ele parar, a indústria também para. Param os serviços, as escolas, as lojas fecham e a agricultura também é afetada.
Com muita responsabilidade e os cuidados necessários à saúde, o comércio pode funcionar. O comércio não é vilão! Para salvar vidas é preciso salvar sim os pequenos, médios e grandes negócios. Não existe vacina contra a fome e o desemprego.
O que queremos é trabalhar.
Deixem o comércio trabalhar para o Brasil andar.
Senhores governantes, o momento é decisivo e vocês precisam demonstrar a competência para equilibrar saúde com a sobrevivência do comércio.”
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