A todo momento, nas redes sociais, somos expostos a pessoas que aparentam ter uma vida equilibrada na qual são mais felizes, mais produtivas, mais ricas e mais sortudas do que nós, não é verdade? Em meio a tantas informações, é impossível evitar a comparação e não nos questionarmos: “como elas conseguem dar conta de tudo?”. A resposta é simples: elas não conseguem.
A observação superficial pode levar a crer que existem pessoas que não têm nada com o que se preocupar, mas isso não é verdade. Manter o equilíbrio não significa não ter problemas, mas sim, cuidar para que todos os âmbitos da vida estejam bem, na medida do possível.
O que significa ter uma vida equilibrada?
A nossa vida é feita de pilares: temos os relacionamentos amorosos, os sociais (amigos e família), trabalho, hobbies, interesses pessoais, etc. Ou seja, se tivermos apenas um desses pilares como precursor da nossa felicidade, anulamos certas partes de nós mesmos e nos tornamos vulneráveis e completamente dependentes apenas deste único pilar.
“Uma vida saudável e equilibrada não significa ter todas as áreas da vida completamente perfeitas. Até porque, isso é praticamente impossível e é normal que uma esteja melhor que a outra às vezes”, elucida o psicólogo Júlio Frota Lisbôa Pereira de Souza, CEO e cofundador da Eurekka.
Ter uma vida equilibrada significa, então, dar atenção, “regar” todos esses pilares que são importantes e não os anular em prol de apenas uma coisa. Se damos toda a nossa atenção ao trabalho e nada mais, podemos entrar em burnout. Se damos toda a atenção ao relacionamento amoroso, pode-se entrar em uma dependência emocional e deixar de lado interesses importantes que formam a nossa personalidade. Se apenas nos focarmos em lazer e passarmos todas as horas do nosso dia vendo Netflix, iremos ficar carentes de relações e, provavelmente, sem sustento.
Ou seja, ter equilíbrio e, consequentemente, menos ansiedade e estresse, não significa que tudo deve estar perfeito. Mas sim, que todas as expectativas não devem estar focadas em apenas uma coisa, é importante distribuir um pouco da atenção e cuidado para cada pilar da nossa vida.
Na pandemia, pode ser difícil botar toda a energia que queremos e precisamos em certas coisas. Muitos não trabalham presencialmente, temos menos contato do que gostaríamos com a família e amigos e muitos interesses e hobbies não podem ser realizados pelas medidas de segurança.
“Por isso, nesse momento, pode ser importante procurar outras formas de sentir esse retorno. Achar um hobby que possa ser feito em casa, fazer chamada de vídeo com os amigos ou fazer uma bela noite de autocuidado, diferente dos seus dias normais, com longos banhos, cozinhando uma receita nova ou fazendo qualquer coisa que seja bom para você e que auxilie na sua saúde mental”, aconselha o psicólogo.
Cobranças e comparações
Vivemos em uma época em que as redes sociais tornaram a comparação muito fácil e pouquíssimo saudável. Mas como isso começou?
Por muito tempo, o ser humano utilizou a comparação com outras pessoas (e até mesmo outras espécies) como uma forma de aprender sem precisar vivenciar. Se um homem das cavernas via outro utilizando uma estratégia que dava muito certo, provavelmente seria bom aprender e copiá-lo, certo?
Assim, a comparação se tornou um sistema “natural” da nossa espécie. Acontece que hoje em dia, principalmente com as redes sociais, muitas pessoas que vemos parecem ter uma vida perfeita. Estão sempre viajando, comendo alimentos saudáveis, fazendo exercício, felizes e sorrindo. Sempre. A questão é que isso não é real.
A grande virada de chave que você pode ter nesse sentido é aprender a utilizar a comparação a seu favor. Você ainda pode se comparar com os outros, desde que saiba filtrar o que é bom, o que é real e, principalmente, o que funciona para você.
Aprenda a seguir perfis que somam na sua vida, que te ensinam coisas produtivas e que te impactam de forma positiva. Não adianta seguir quem está sempre lindo e perfeito. A vida dessa pessoa não é 100% flores, por mais que seja isso que ela faça parecer.
Outra comparação saudável é a que você faz consigo mesmo. Para Júlio Frota Pereira de Souza, é preciso buscar ser uma versão melhor de si mesmo a cada dia, preencher a sua rotina com atividades que façam com que sinta que está dando passos em direção aos seus sonhos.
Positividade tóxica e outras armadilhas
A forma e a definição de produtividade é uma das maiores armadilhas que se encontram no mercado atualmente. Especialmente em tempos que o teletrabalho foi adotado com tanta adesão por companhias ao redor do mundo, a forma como se trabalha precisa ser repensada.
Contrariando o senso comum, sentar e passar o máximo de tempo possível focado em suas tarefas pode não ser a melhor estratégia. É preciso desenvolver uma rotina que funcione para você, que tenha momentos de trabalho e foco, assim como de lazer e relaxamento, hábitos que definem uma vida equilibrada.
Para isso, é necessário desenvolver autoconhecimento e entender em que momentos você rende mais, quanto tempo você realmente consegue se focar em uma tarefa, como sua rotina precisa ser estruturada e muitos outros detalhes que influenciam no quanto você irá produzir.
“Outro ponto que você deve se atentar é em relação à positividade tóxica. A ideia de que precisamos estar sempre felizes e enxergando o lado bom das coisas é disseminada com força, mas esse pode ser um caminho rápido para um adoecimento mental”, alerta o psicólogo.
Reprimir sentimentos e emoções é como carregar uma bomba relógio. Tudo o que você reprime vai sendo guardado e, em algum momento, irá explodir. Desenvolver uma tolerância e formas de lidar com as suas emoções é um sinal de inteligência emocional, uma das maiores e mais importantes habilidades que você pode ter hoje em dia. O lado bom é que, assim como qualquer outra habilidade, ela pode ser praticada, treinada e melhorada com tempo e dedicação.
“Por isso, não se deixe enganar pensando que medo ou tristeza são ruins ou um sinal de fraqueza. As pessoas de maior sucesso não negaram esses sentimentos, mas aprenderam a aceitar e lidar com eles”, finaliza o CEO da Eurekka. Mascarar suas emoções irá, aos poucos, deteriorar sua saúde mental, o que inevitavelmente diminuirá sua sensação de bem-estar e sua produtividade.
O caminho até o equilíbrio
Veja a seguir algumas formas de ter mais prazer e bem-estar na rotina diária e reduzi a ansiedade e o estresse.
- Agir de fora para dentro: agimos de fora para dentro quando estamos desanimados e, mesmo assim, fazemos o que importa. É como quando você acorda cansado demais, mas mesmo assim sai da cama, pois sabe que vai ficar bem ao longo do dia.
- Anote o progresso dos seus hábitos: escreva seus bons hábitos em uma folha e marque sempre que os fizer. Esta é uma ótima ferramenta para tornar sua evolução em hábitos saudáveis mais visual e perceber melhor os seus padrões de comportamento.
- Desapegue da “rotina perfeita”: você precisa aceitar que não tem como praticar sua rotina perfeitamente todos os dias. Então, desapegue-se dessa ideia e valorize mesmo os dias mais imperfeitos, sem desistir.
- Faça alguma atividade física: colocar o corpo em movimento mexe com a química do cérebro de um jeito muito poderoso e é indispensável para a manutenção da saúde física. E se você não faz nenhum exercício, só subir e descer as escadas do seu prédio ou caminhar 10 minutos na rua já está bom para começar.
- Crie um ritual pré-sono: é uma sequência de passos relaxantes que você repete todo dia, até que seu cérebro associe essa sequência com o ato de dormir. “Um exemplo de ritual poderia ser: depois de jantar, você toma banho, veste o pijama, escova os dentes, liga o abajur, senta na cama, lê por 20 minutos, desliga o abajur e deita para dormir. A mágica é que repetir a mesma sequência, sem mudar nada, vai ensinar seu cérebro a ficar com sono cada vez mais cedo”, explica Júlio Frota Pereira de Souza. E com um sono melhor, sua ansiedade diminui muito.
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