O sucesso do agronegócio no Brasil está fortemente relacionado com a geografia do país: abundância de recursos naturais, clima, hidrografia, etc. Mas não é apenas isso: por trás de tamanho desempenho estão fazendeiros, trabalhadores rurais, especialistas e bastante tecnologia empregada, muitas vezes fomentada por agrotechs.
Agrotechs são startups em que a tecnologia desempenha um papel fundamental para o setor agroalimentar – uma indústria de US$ 7,8 trilhões – responsável pela alimentação do planeta e empregando bem mais de 40% da população global, segundo o relatório AgriFoodTech Investiment Report 2021, da AgFunder.
E a necessidade de inovação agroalimentar é maior do que nunca: em 2020 a fome disparou em termos absolutos e proporcionais, ultrapassando o crescimento populacional: estima-se que cerca de 9,9% das pessoas do mundo tenham sido afetadas pela fome no ano passado, ante 8,4% em 2019, segundo dados da Unicef.
Contudo, além desse enorme desafio, as startups agroalimentares também têm como objetivo resolver problemas como desperdício de alimentos, emissões de CO2, uso de produtos químicos, resíduos e escoamento, seca, escassez de mão de obra, cadeias de abastecimento, ineficiências de distribuição e rastreabilidade, eficiência e lucratividade da fazenda e produção de carne insustentável.
Agrotechs brasileiras
No Brasil, o cenário das agrotechs mostra-se bem representativo, afinal, o país é responsável pela produção de comida suficiente para estimados 1,6 bilhão de pessoas, ou seja, um excedente de 1,4 bilhão em relação à população do país, de acordo com dados da Embrapa.
Hoje, as agrotechs ocupam o terceiro lugar (11,8%) entre os segmentos mais comuns entre as startups, atrás apenas de educação (17,3%) e saúde e bem-estar (17,1%), conforme dados do último Mapeamento do Ecossistema, da Abstartups.
De acordo com José Muritiba, diretor executivo da Abstartups, a região sudeste ainda concentra a maior parte das agrotechs brasileiras, com 40,8%. “Mas, desde o último estudo, notamos uma maior polarização na distribuição, com crescimento nas demais regiões, como sul (36,9%) e centro-oeste (14,6%)”, destaca.
Por ser um segmento consolidado no mercado, a maioria das agrotechs já estão em fases de tração e escala dos seus negócios (42%), com potencial de crescimento de 29,9% de agrotechs em fase de validação, ou seja, saindo do campo das hipóteses para provas concretas e validadas pelo mercado.
Sobre o tipo de serviço ofertado, 72,6% das agrotechs oferecem soluções para “dentro da porteira”, ou seja, nos processos referentes à produção e à gestão agrícola como plantio, manejo, colheita, beneficiamento, manutenção de máquinas e equipamentos, descarte e mão-de-obra.
Tecnologia é aliada
O agronegócio é reconhecido como um dos setores econômicos mais importantes no Brasil, visto que grande parte da nossa economia é baseada na exportação de commodities.
E, atualmente, o Brasil é o quarto maior exportador mundial de produtos agropecuários. Logo, fomentar a inovação e tecnologia para esse setor é um caminho natural e muito necessário.
“Isso porque, não só a cadeia produtiva do agronegócio é bem extensa e oferece inúmeras oportunidades e desafios (o que é o cenário ideal para startups, que nascem para resolver problemas), como também é necessário otimizar o setor quando falamos em temas com evitar o desperdício de alimentos, diminuir a fome e iniciativas de sustentabilidade”, destaca José Muritiba.
Perspectivas e desafios para os próximos anos
A previsão é que a população mundial deverá ser de quase 10 bilhões de pessoas em 2050, e o grande dilema disso é: como será possível alimentar tanta gente?
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a produção mundial de alimentos terá que aumentar 70% para ser suficiente. “Nessa perspectiva, o futuro da inovação e tecnologia no agronegócio é quase um caminho sem volta. Se basear em dados, inteligência artificial, big data e outros recursos que favoreçam o entendimento sobre os recursos naturais e preveja desafios como clima, redução dos impactos negativos ao meio ambiente e melhorar os insumos são fundamentais para que esse crescimento aconteça de maneira sustentável para nós e para o planeta”, alerta José Muritiba.
No cenário das agrotechs no Brasil, os principais desafios encontrados pelas startups para prover as soluções necessárias ainda estão nas condições básicas como falta de conectividade e infraestrutura na zona rural (33,9%), Mindset Digital e Inovação Aberta (22,4%) e implementação de Big Data (12,6%), segundo dados da Abstartup.
Por outro lado, apesar dos desafios enfrentados pelas agrotechs, observa-se um predomínio das soluções de softwares de gestão da produção agropecuária e para as especialistas em internet das coisas e big data analytics para o campo, de acordo com o relatório AgTech Report 2021, do Distrito.
Entre as demais soluções tecnológicas para a agropecuária, existe um cenário bastante equilibrado entre biotecnologias, automação e robotização e soluções de marketplace, com números bem parecidos entre si.
A aposta fica por conta dos investimentos em novel farming, ou seja, em métodos inovadores de produção agropecuária que envolvem novos métodos ou gêneros agrícolas não-tradicionais – apesar de ser um braço menos representativo, justamente por seu pioneirismo.
Contudo, com o aumento da demanda por soluções que tornem a produção agropecuária mais sustentável, o novel farming tem um potencial significativo para que as entrantes no mercado atuem cada vez mais na interface entre agrotechs e greentechs (ecossistema de tecnologias que favorecem a preservação do meio ambiente). Bom para o planeta e para todos os seres que habitam nele.
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