Os meses de pandemia fizeram com que as pessoas se voltassem para dois assuntos principais: alimentação e casa. Ao mesmo tempo, as foodtechs vão se proliferando rapidamente com a proposta de oferecer comida saudável: estima-se que em 2022, o mercado atinja um valor global de R$980 milhões, segundo o The Food Tech Matters.
Contudo, no país referência em saúde, cujo guia alimentar inspirou a criação de documentos parecidos em pelo menos outras cinco nações, levanta-se o debate sobre até que ponto essas companhias realmente favorecem o cultivo de hábitos de consumo saudáveis nos indivíduos, e não apenas a compra por si só.
Inicialmente, é necessário entender que o termo foodtech denomina um conjunto de empresas que usam a tecnologia de diversas maneiras para oferecer soluções escaláveis e transformações digitais em prol da alimentação.
Exemplo disso é que, durante a pandemia, o uso de aplicativos de delivery de comida se tornou ainda mais comum dentro da casa dos brasileiros. E apesar da praticidade que oferecem, a nutricionista, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do assunto, Paula Horta, considera que eles não são sinônimo de promoção de comida saudável.
Tanto que um estudo feito com duas plataformas em Belo Horizonte, em 2019, mostrou que a oferta de lanches ultraprocessados somam quase 70% da oferta dos cardápios. Os outros 30% são compostos por refeições tradicionais. Essa discrepância também é notada entre as bebidas: refrigerantes e sucos industrializados ocupam quase 80% da oferta dos apps, enquanto água e sucos naturais ocupam, respectivamente, 48% e 27%.
Além disso, em todo o país, os anúncios publicitários da principal plataforma digital de entrega de comida privilegiam as estratégias de desconto, entrega grátis e combos na oferta de preparações com ingredientes ultraprocessados. Logo, quem busca pelo consumo de refeições ricas em nutrientes consegue encontrá-las mais facilmente em companhias específicas, como a Liv Up.
Com o propósito de conectar as pessoas com a comida boa de verdade, que é aquela que é boa para quem come, para quem produz e para o planeta, a empresa é um exemplo de foodtech high tech e high touch que oferece um mercado on-line de comida natural.
A companhia possui parceria com 40 famílias de pequenos agricultores, que chegam a ter uma receita média de R$15 mil por mês, e compra mais de 100 toneladas de orgânicos por mês. O foco é falar não apenas do sabor da comida, mas sobre ser saudável para toda a cadeia, de acordo com Maria Carolina Rodrigues, head de consumer insights da Liv Up.
“Por ser uma empresa com um modelo direct-to-consumer (DTC) e também conhecida como uma Digital Native Vertical Brand (DNVB), temos na tecnologia alguns de seus diferenciais, desde o apoio à agricultura com a possibilidade de dar previsibilidade na demanda e estruturar uma parceria de planejamento a longo prazo e risco compartilhado, até a possibilidade de escalar receitas caseiras em uma cozinha que mescla processos artesanais e industriais, garantindo o sabor e frescor de uma comida feita na hora, em refeições pré-prontas e ultracongeladas à vácuo”, conta a profissional.
“Até mesmo a tecnologia de roteirização das entregas, a leitura de dados e contato muito próximo ao consumidor que permitem criar soluções em conjunto com ele que sejam mais assertivas”, explica. Dessa forma, a gestora acredita que as foodtechs podem entregar a possibilidade de inovar e escalar processos que podem tornar a alimentação saudável mais acessível sem perder a praticidade, o saber e o impacto.
O cliente quer uma experiência saudável
Os aplicativos de delivery de comida poderiam trabalhar o incentivo a refeições saudáveis e a experiência do cliente de diversas maneiras, de acordo com Paula Horta: os restaurantes cadastrados nessas plataformas podem incluir informações da lista de ingredientes e de composição nutricional de suas preparações. Um consumidor mais bem informado é capaz de fazer escolhas mais conscientes. Os estabelecimentos também podem destacar opções compostas por alimentos mais frescos e menos ultraprocessados, priorizando sua visualização pelo usuário.
“Cuidados como o uso de embalagens — se possível, sustentáveis — que permitam a manutenção do frescor do alimento não processado ao longo da entrega aumentam a aceitação do consumidor e o incentiva a fazer novos pedidos. Empresas que gerenciam os aplicativos podem enviar mensagens de estímulo a escolhas alimentares mais saudáveis e identificar estabelecimentos comerciais com um selo de saudabilidade que considere a presença de alimentos mais frescos. São práticas que permitem às companhias gerar impacto positivo na sociedade, levando em conta sua capilaridade e usos massivos”, descreve.
Na prática, em termos de termômetro sobre as expectativas do cliente, a head de consumer insights da Liv Up conta que o retorno das pontas de cadeia, que sustentam o negócio e com quem a companhia mantém contato próximo, desde o agricultor parceiro até o consumidor, é extremamente importante.
“O potencial de fidelização e recompra, ou a nota do Net Promoter Score (NPS), além de outros feedbacks que recebemos através de nosso time de Customer Experience Management (CXM), e o crescimento que a empresa tem imprimido com tanta velocidade, demonstram que estamos no caminho certo para entregar um produto de valor”, revela.
Quando se trata de mercado, a organização nota que a preocupação com a origem e o impacto dos alimentos e produtos em geral tem ganhado relevância na vida das pessoas. A necessidade do consumidor em confiar e em sentir credibilidade nas marcas das quais compra e o crescimento do mercado de orgânicos, e de comidas saudáveis em geral, são os principais sinais disso.
Por isso, a Liv Up elenca cinco tendências sob as quais se apoia no decorrer do seu acelerado crescimento:
1) Digitalização;
2) Personalização;
3) Conhecimento sobre a origem dos alimentos
4) Confiança na marca;
5) Busca por uma vida saudável e equilibrada.
“As mudanças de comportamento e a relação do consumidor com a comida, impulsionadas pela pandemia, que levou mais pessoas a cozinhar em casa e a ressignificar o ato de cozinhar e de comer como um ato social é essencial, também tem contribuído para essa aproximação”, pontua a head de consumer insights da empresa.
Comida de verdade e os canais digitais
Para as foodtechs, tecnologia, dados e comunicação são essenciais para construir uma relação mais próxima com o consumidor e, assim, criar junto com eles, soluções reais para necessidades reais e que tenham valor.
“Os canais digitais são a principal ferramenta de geração de dados, que, junto com o relacionamento próximo e a escuta ativa, nos permitem desenvolver um conhecimento profundo daquilo que buscam. Além disso, nos ajudam a atuar de forma mais eficiente, identificando rapidamente pontos de melhoria e escalando nossa capacidade de inovação de forma assertiva e ágil”, completa Maria Carolina Rodrigues.
Desse modo, as foodtechs são vias alternativas para aqueles que desejam adotar um estilo de vida mais saudável, uma vez que nos tradicionais aplicativos de delivery essas organizações poderiam não encontrar espaço para esse tipo de oferta. Trata-se de um movimento em curso, que mostrará fortalezas, pontos fracos e oportunidades ao passo em que as atividades presenciais vão retornando gradativamente.
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