Não é de hoje que se enxerga que o mundo corporativo tem um perfil — e essa persona geralmente não é lá a mais diversa. Mas de um tempo para cá, as empresas têm lutado para se desfazer da imagem do homem branco, jovem e engravatado como reflexo das companhias e isso tem gerado incríveis resultados para os negócios: programas de incentivo a diversidade colocaram uma grande parcela de colaboradores negros, LGBTQI+, mulheres e outras minorias no mercado de trabalho. No entanto, quando se pensa em toda essa inclusão, há um grupo que constantemente é deixado de fora: o público 50+ ou, como são conhecidos, os longevos.
Ainda que representem apenas 26% da população e tenham uma grande contribuição para o mercado de trabalho, sobretudo pela experiência profissional e de vida, esse grupo é minoria nas empresas e isso ocorre devido ao preconceito etário. Ou seja, é aquele velho ditado que diz que o profissional está muito velho para desempenhar as funções, que não sabe lidar com as novas tecnologias e é “muito caro” para ser bancado por poucos anos na empresa antes da aposentadoria.
“Essas pessoas muitas vezes são colocadas como ultrapassadas, lentas, desatualizadas ou mesmo incapazes. Muitas vezes, de forma automática, a gente enxerga as pessoas mais velhas com essas características e nem nos perguntamos o porquê. Infelizmente, o preconceito etário faz parte da nossa sociedade, ele é muito praticado e ainda é aceito nas empresas”, argumenta Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, empresa que trabalha para realocar profissionais com mais de 50 anos no mercado de trabalho.
A realocação dos profissionais longevos
De uns anos para cá, no entanto, as empresas passaram a olhar os longevos com outros olhos. Isso começou de início no varejo, posto que essa geração é uma das que mais concentra renda no País e tem um grande poder de aquisição, seja para si próprios ou para filhos e netos. Assim, promover um atendimento específico a este público foi uma grande busca dos varejistas, mas ainda há um longo processo para percorrer. “É preciso sempre lembrar que o público 50+ é uma geração super expressiva, que concentra renda. É um público com alto poder aquisitivo, mas que ainda não se sente representado nas campanhas e muitas vezes também não se sente muito bem atendido, porque o atendimento normalmente é feito por jovens que não têm experiência e nem vivência para poder atender pessoas mais maduras. Esse público é fiel quando é bem atendido, o que é outra vantagem, mas quando não são bem atendidos, há um imenso nível de exigência”, acrescenta Litvak.
É estranho pensar que um público com alto poder aquisitivo seja esquecido do perfil do consumidor de diversas empresas, mas, conforme explica Litvak essa é uma realidade que segue em mudança. “Não é hoje que as empresas não dão atenção aos longevos, mas hoje elas estão começando a olhá-los melhor. Existe aí uma cultura de preconceito etário, uma “cultura jovencêntrica” como a gente diz. Isso está mudando, as empresas estão começando agora a rever isso, porque com o envelhecimento populacional, isso se torna uma pauta importante tanto social quanto estratégicas para as corporações”, destaca o executivo.
Ele complementa, ainda, que há uma série de vantagens na contratação de profissionais longevos que não podem ser descartadas. A Maturi, por exemplo, trabalha desde 2015 para incorporar essa ideia das companhias e já atuou ao lado de mais de mil empresas, que contrataram diretamente mais de 5 mil pessoas. “Capacitamos essas pessoas não apenas para que elas possam se realocar no mercado de trabalho, mas também empreenderem, trabalharem contratados como autônomos, consultores, para que passem por tecnologia, conhecimento, diversas ações que fazemos não só de atualização mas de conexão entre eles, mas o foco dos nossos serviços são as empresas, onde a gente faz divulgação de vaga, processos seletivos, treinamento e consultoria” explica o CEO.
A diversidade como estratégia de negócios
No mercado de trabalho, a mão de obra dos longevos é, na verdade, muito mais aliada do que se pensa. “O profissional mais maduro contribui com sua experiência profissional e de vida, já passou por muitas mudanças e pode contribuir muito na estratégia das empresas. Diferente do jovem, o público 50+ já não tem aquela ansiedade de querer tudo para ontem e isso às vezes é muito positivo na hora de tomar uma decisão, analisá-la com calma”, explica Litvak. “Esse outro olhar é uma maturidade que traz aí um desenvolvimento pessoal, de relacionamento, de inteligência emocional que, coincidentemente, também é muito importante e muito benéfico aos jovens”.
O CEO explica que, para que a realocação desses profissionais seja proveitosa, também é necessário reduzir o abismo entre as gerações — uma mudança que começa pelos líderes da empresa. “Começando primeiro por ações práticas: a prioridade é a conscientização, então é levar para dentro o tema, fazer palestras, workshops, gerar debate sobre diversidade e preconceito etário. É mostrar para todo o time porque é importante quebrar um pouco esses paradigmas, debater e combater o preconceito etário e o quanto isso vai ser benéfico para a organização e para eles, afinal de contas, todo mundo vai chegar lá”, ressalta. “Agora, mais importante que fazer a ação é colocá-la em prática, ou seja, fazer programas de inclusão de 50+, programas de integração, projetos, mentorias, são várias ações que na prática você coloca essas pessoas em evidência, para trabalhar junto e quebra os paradigmas”.
Para o varejo, a estratégia também começa de dentro para fora, posto que “ter na empresa um profissional 50+ também significa um olhar diferente e positivo para clientes 50+, que faz toda a diferença no atendimento do varejo”, explica o Litvak. E esse reconhecimento por vezes é o responsável pela compra ou fidelidade de um novo cliente, que por vezes tem mais preferência e disponibilidade que um consumidor mais novo.
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