Não é bem uma novidade dizer que a maior parte das empresas são dirigidas por homens. Eles estão na maior parte dos cargos superiores: gerentes, coordenadores, vice-presidentes e principalmente CEOs. E esse comportamento é algo que acontece há anos, mas, de uns tempos para cá, tem dado sinais de mudança, sobretudo após o reconhecimento do papel das mulheres na sociedade e, em especial, no mundo dos negócios.
No entanto, o caminho para fazer valer a equidade de gênero no mundo corporativo ainda é grande. Para se ter ideia, menos de 10% das empresas brasileiras são dirigidas por mulheres, conforme aponta estudo BR Rating, agência de rating de governança corporativa. A pesquisa, que analisou 486 empresas — 59% delas de capital nacional e 41% multinacionais —, destacou que o gênero feminino ocupa o cargo de CEO no País para apenas 3,5% das companhias pesquisadas.
Ainda que mais capacitadas, em todo o País e independente da categoria da empresa, elas são minoria em cargos superiores. Outro estudo, realizado pela Efund Investimentos, avaliou a direção de mulheres à frente de startups e constatou que, dos 400 empreendimentos pesquisados, somente 12 foram fundados por pessoas do gênero feminino ou possuem executivas em sua direção.
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A falta de mulheres reflete a falta de investimento financeiro
Embora o caminho para conquistar a tão almejada equidade de gênero nesses cargos seja extenso, o próprio mercado já começa a se posicionar para empresas que não trabalhem a diversidade em seu quadro de colaboradores. Isso porque os investidores reconhecem que o trabalho executado por elas costuma ser mais criativo, eficiente e seguro.
E essa constatação não é mero argumento: um relatório da First Round Capital aponta que startups fundadas por mulheres apresentam uma performance 63% superior. No mesmo sentido, um estudo do Boston Consulting Group comprova que a cada dólar que uma mulher fundadora ou cofundadora levanta, ela gera 2,5 vezes mais receita do que um fundador do gênero masculino.
Assim, essa defasagem de executivas começou a dificultar o aporte de investimentos para startups. “Sentimos falta de mais mulheres conduzindo os projetos porque sabemos que a presença delas costuma ser um fator de ganho de eficiência”, explica Igor Romeiro, sócio-fundador da Efund. “Acreditamos que essa melhor performance se deve ao fato de a mulher conseguir se organizar melhor para realizar as várias tarefas que um cargo executivo demanda, sem perder o foco. Elas também são mais habilidosas e diplomáticas, aspecto muito importante para resolver conflitos e problemas”, conclui.
Mais qualificadas, menos cogitadas
É claro que esse ganho de eficiência, entretanto, não é puramente talento do cromossomo X a mais no DNA das mulheres. Existe, por trás dele, uma cultura focada em conquistar mais ênfase, posto que o próprio mercado corporativo já fecha as portas a esse gênero. Nesse sentido, elas batalham para obter mais especialização e conhecimento como uma maneira de obter destaque.
O resultado desse desnível pode ser visto inclusive nas universidades: 19,4% das mulheres até 25 anos possuíam o ensino superior completo em 2019, ao passo que a porcentagem entre os homens era de 15,1%, segundo dados do estudo Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No entanto, ainda que mais qualificadas, elas ainda são minorias em cargos de gestão e, para ascenderem, o caminho normalmente é dificultado. A maior parte dos ambientes favoráveis a esse crescimento em geral são empresas já fundadas por mulheres.
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A partir desse cenário, uma série de ações com enfoque na adesão de mulheres na força de trabalho e nos cargos de liderança tem surgido nos últimos anos. Um exemplo recente foi a parceria da WOMEN Inc e a BrandedU, que sugeriram que mulheres dos Países Baixos, na Europa, trocassem seus nomes por “Peter”, posto que as companhias dessa região possuem mais CEOs com esse nome do que CEOs mulheres. Entre os dias 24 e 28 de janeiro, boa parte das mulheres realizaram a mudança para chamar atenção à falta de diversidade dos cargos de liderança.
Uma das mulheres que aderiu à campanha foi Yeliz Çicek, editora-chefe da Vogue Holanda. Em sua página do LinkedIn, a executiva mostrou apoio à campanha e contou parte de sua experiencia. “Esta semana, meu nome é Peter. Por quê? Quero ajudar a focar a atenção neste fato chocante: na Holanda, há mais CEOs chamados Peter do que CEOs que são mulheres. Uma falta de diversidade tão impressionante no topo simplesmente não deveria existir. As mulheres estão estruturalmente sub-representadas em cargos executivos, enquanto a diversidade no topo comprovadamente aumenta os lucros. Está na hora de isso mudar! É por isso que estou chamando todas as mulheres da minha rede para falar sobre esse assunto”, escreveu.
No fim, o caminho é longo, mas já tem dado importantes passos em direção à mudança — notada e inclusive incentivada pelos homens também. “Se fizermos um novo levantamento em 2022, acredito que haverá mais mulheres em posição de comando. Elas já ocupam posições de destaque nos Conselhos de Administração. Aos poucos elas crescem e se empoderam”, conclui Ronald Bozza, sócio da BR Rating.
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