Muitos são os relatos de jovens profissionais da Geração Z que não se adaptaram às oito horas diárias – ou mais – de trabalho. Os Millenials cresceram acreditando que deveriam trabalhar com aquilo que amavam, e assim nunca teriam que trabalhar. Já a Geração Z viu a desilusão dos profissionais que vieram antes e perceberam que a realidade não é bem assim. Afinal, fazer aquilo o que gosta ou com o qual se identifica não garante estabilidade em um mundo onde a imprevisibilidade é regra.
Como aponta pesquisa da Deloitte, que entrevistou mais de 14 mil indivíduos da Geração Z e mais de oito mil de Millenials em 44 países, o custo de vida para essas pessoas são grandes, sendo essa sua principal preocupação. Uma das consequências dessa ansiedade é fazer trabalhos paralelos, adiar grandes decisões de vida – como construir uma família ou comprar uma casa – e adotar comportamentos para economizar dinheiro.
Em meio a esse cenário de pouca previsibilidade e estabilidade, essas duas gerações estão repensando o papel do trabalho em suas vidas. E nisso, o equilíbrio é essencial. Segundo a mesma pesquisa da Deloitte, 49% dos indivíduos da Geração Z e 62% dos Millenials afirmam que o trabalho é central para suas identidades. Mas o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é um objetivo que almejam, sendo essa a principal característica que admiram em colegas e a consideração número um no momento de escolher um novo empregador.
O que os jovens valorizam
A Geração Z, que inclui pessoas nascidas entre 1995 e 2010, é a primeira inteiramente nativa digital. O reflexo disso é que esses indivíduos são hiper conscientes dos problemas da sociedade e do mundo. Como explica o estudo “Geração Crtl+Z”, do Grupo Consumoteca, esse grupo se sente impotente diante dos conflitos globais e sobrevivente em meio a esse cenário.
Entre os jovens latinos entrevistados pelo estudo, 42% acreditam que o individualismo configura uma das principais características dessa geração. Esse fator, por sua vez, tem como consequência a busca por estabilidade. Entre os entrevistados, 83% têm como maior preocupação da vida a conquista da estabilidade financeira.
Segundo o estudo da Deloitte, por mais que as preocupações financeiras estejam no topo tanto para a Geração Z quanto para os Millenials, a primeira é mais provável (44%) em esperar que sua situação melhore no ano seguinte, antes 35%.
O trabalho da Geração Z
Outro levantamento da consultoria EDC Group, que entrevistou 328 brasileiros entre 18 e 25 anos, aponta que 12,50% dos mesmos afirmam não cumprir todo o expediente. Nesse caso, costumar começar a jornada de trabalho depois do horário e encerram antes do combinado. Além disso, declaram que caso chegue uma demanda no fim do expediente, tendem a não cumprir a tarefa e a deixar para outro colega de trabalho. 25% dos entrevistados declararam que cumprem tudo aquilo que foram contratados para fazer – sem ir além ou reduzir suas incumbências.
A pesquisa aponta que, quando comparados aos Millenials, os jovens profissionais da Geração Z são menos engajados no trabalho. Por exemplo, apenas 1% dos respondentes Millenials, entre 35 e 40 anos, afirmam não cumprir tarefas no final do expediente. Mais do que isso, 16% dos profissionais desse grupo declararam que preferem ultrapassar o horário de trabalho para não deixar de entregar alguma demanda para aquele mesmo dia.
Há, portanto, uma diferença latente na forma como a Geração Z encara o papel do trabalho em suas vidas. São os profissionais que não veem sentido em trabalhar tantas horas por dia e por semana, uma vez que desejam aproveitar outras esferas da vida com mais intensidade do que a vida profissional.
Como encontrar o equilíbrio
O interesse em trabalhos de meio período é crescente entre os jovens, como aponta a Deloitte. Para esse grupo, encontrar oportunidades que melhorem seus avanços na carreira se mostram como a melhor solução para atingir o tão desejado equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. No entanto, a maioria dos respondentes não acreditam que reduzir suas horas de trabalho é uma opção realista, já que o corte de horas também é acompanhado de um corte de salário.
Há ainda uma preocupação de que, por mais que as horas de trabalham sejam reduzidas, o trabalho não seja, ou então que seja menos interessante. A proposta da semana de quatro dias úteis se torna uma saída que vem ganhando popularidade entre esses profissionais, uma vez que oferece mais tempo para aproveitar em suas vidas pessoais. Além disso, o trabalho remoto ou híbrido é uma preferência clara entre Millenials e Geração Z. Três quartos dos respondentes apontaram que considerariam trocar de trabalho caso o empregador decidisse chamá-los para trabalhar presencialmente todos os dias.
Como atrair talentos das Gerações Z e Millenials
Segundo a Deloitte, há alguns passos que organizações e lideranças podem dar para atrair jovens talentos:
- Acelerar o progresso: empregadores devem acelerar o desenvolvimento de iniciativas para o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal de seus funcionários, flexibilidade do local de trabalho, ações de diversidade e inclusão, impacto social e sustentabilidade.
- Confrontar preocupações financeiras: as organizações devem garantir a segurança financeira de seus funcionários – ainda mais em tempos turbulentos da economia. Isso pode se desdobrar na oferta de salários e benefícios competitivos com o mercado, benefícios flexíveis e criar programas de mentoria e desenvolvimento de carreira.
- Desbloquear a flexibilidade: garantir a flexibilidade de onde, como e quando as pessoas podem trabalhar, permitindo o modelo híbrido e criando estratégias para a sua viabilização.
- Criar formas de conter fatores de ansiedade e estresse: as organizações podem criar formas para endereçar problemas como saúde mental, estresse e burnout no ambiente de trabalho, ajudando a eliminar o estigma que envolve o assunto.
- Eliminar comportamentos não-inclusivos: o ambiente de trabalho – seja ele remoto, híbrido ou presencial – deve ser um espaço inclusivo, livre de comportamentos como micro agressões ou práticas de assédio. É essencial educar o time e criar uma cultura de confiança para que funcionários denunciem comportamentos indevidos.
- Preparar-se para a transição para a economia de baixo carbono: uma vez que mais da metade da Geração Z e dos Millenials acredita que seus empregadores estão providenciando as habilidades para fazer a transição para a economia de baixo carbono, é essencial que as empresas que ainda não fazem parte desse cenário corram atrás do prejuízo.