“No mundo dos games, o metaverso já acontecia muito antes de ser chamado de metaverso”. Quem faz a constatação é o consultor e especialista em indústria de games, Pedro Zambon. Ele observa que as empresas do setor são pioneiras na criação de universos digitais e já faziam isso antes que Mark Zuckerberg, fundador do Facebook e agora Meta, “marcasse território” e cunhasse o termo que se popularizou para designar a virtualização das relações humanas.
Assim, enquanto diversas empresas de tecnologia se apressam para entrar na corrida pela colonização do metaverso, a indústria de games está na dianteira, com plataformas digitais consolidadas que contam com milhões de usuários ativos. São os casos de jogos como Fortnite, da Epic Games, GTA online, da Rockstar Games, e até o mais voltado para o público infantil, Minecraft, da Mojang Studios.
“São games que já criaram ambientes virtuais de interação, que extrapolam os objetivos do jogo em si. Agora, essas grandes empresas têm a visão de não só criar jogos, mas também universos que permitam muito mais, que outras coisas possam emergir de dentro deles”, fala Pedro Zambon.
Liderando o processo de construção do metaverso – ou dos metaversos – as empresas de games devem receber impactos desta nova realidade ao mesmo tempo em que direcionam para onde ela caminha. O que esperar daqui para frente?
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Tendências: como serão os games no metaverso
Aproveitando as plataformas digitais que já possuem uma comunidade engajada, os players do setor de games estão buscando expandir o que já têm por meio da transformação da economia virtual para uma que esteja, de fato, conectada com a economia real. Com a ajuda da web 3.0, que conta com a tecnologia de blockchain e as criptomoedas, esse seria o caminho para viabilizar o metaverso.
Para o especialista Pedro Zambon, a principal estratégia destas empresas é criar um mundo digital vivo, que tenha muitas possibilidades de interação e bastante versatilidade. A chave para isso está no “user generated content”, ou seja, conteúdo gerado pelo próprio usuário.
“É a versatilidade desse conteúdo que vai criar um metaverso rico, que para de depender só do seu desenvolvedor e passa a ter uma organicidade de milhões de pessoas produzindo algo novo dentro dele. É isso que vai povoar esses universos”, diz.
Neste sentido, quanto mais pessoas aglutinadas nas mesmas plataformas, melhor. Isso leva as empresas que procuram altos faturamentos apostarem no desenvolvimento de um número menor de jogos, porém que concentrem uma audiência mais ampla e tenham ciclos de usabilidade mais longos. A tendência é que, dentro do mesmo universo, existam vários produtos que atendam o maior tipo de jogadores possíveis.
O exemplo é simples: em vez de fazer vários jogos pequenos ou um jogo de carro, o público terá um jogo de carro dentro de um grande jogo que abarque tudo. A ideia, para Pedro Zambon, é a construção de mundos abertos que possibilitem praticamente todas as dinâmicas de interação.
Quem está apostando alto nos universos digitais
Ao seguir a estratégia à risca, o jogo Fortnite e sua desenvolvedora, a Epic Games, são um dos players desta indústria que mais se colocam à frente no desenho do futuro do metaverso. Com uma base de usuários calculada extraoficialmente em cerca de 350 milhões de jogadores, o game vem diversificando suas ações.
Além das batalhas, que são parte do jogo, ele tem apostado na realização de eventos. Já fizeram shows na plataforma nomes como Ariana Grande, Travis Scott e Emicida, primeiro brasileiro a participar. A Epic Games também anunciou em abril deste ano uma parceria com a Lego. O objetivo é criar um espaço virtual voltado para crianças.
No mundo dos games, o consultor Pedro Zambon ainda destaca outros que já têm comunidades bem consolidadas no metaverso: Avakin Life, PK XD, Roblox, Sandbox e VR Chat, além dos já citados Minecraft e GTA online.
No entanto, não se pode ignorar o esforço da Meta em dominar todo o cenário que envolve o metaverso, incluindo os games. A grande aposta do conglomerado de Mark Zuckerberg é na realidade virtual (ou virtual reality/VR) e em toda a aparelhagem que ela exige.
“Hoje ainda é muito caro. Por isso, a Meta está investindo muito na popularização de equipamentos de realidade virtual, na questão de logística e produção de óculos de VR, para mais pessoas poderem usar e comprar. Só assim dá para aumentar o público desta tecnologia”, explica o especialista Pedro Zambon.
Games e metaverso: em busca de uma economia viável
Não só o acesso cada vez maior a dispositivos, o aumento do número de jogadores nos games em ambientes digitais e a popularização crescente de entretenimento online está no cerne do povoamento do metaverso. Para isso acontecer, ele precisa ser economicamente viável.
Uma das tentativas de deixar a economia dos games em metaverso mais conectada com a realidade é por meio dos jogos play-to-earn (“jogue para ganhar”, em tradução literal).
Neles, os ativos digitais conquistados dentro do jogo – como personagens, armas e artefatos – passam a ser propriedade do jogador e se tornam intercambiáveis dentro e fora do universo do game. São, basicamente, NFTs (non-fungible token ou token não fungíveis) que trazem segurança e certa viabilidade de uma economia real.
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“O conceito é bem interessante, mas existem algumas complexidades para fazer funcionar. Ainda existem golpes e muita gente entra com dinheiro real na esperança que aquele ativo se valorize no futuro, não pela jogabilidade”, afirma Pedro Zambon.
Ele explica que a primeira leva de jogos baseados em NFTs foram criados por pessoas ligadas ao mundo da blockchain, que não entendiam necessariamente de criação de jogos e universos virtuais. Assim, acredita que somente agora, com a entrada dos desenvolvedores de games na modalidade play-to-earn, é que devem começar a surgir universos que permitam uma sustentabilidade e equilíbrio maiores.
“A grande questão é se a tendência veio para ficar. Ainda existem incertezas sobre como será implementada e quem vai assumir a dianteira. Os jogos play-to-earn que vão se consolidar no mercado devem ser lançados somente entre 2023 e 2024, porque até lá temos muitas tentativas, mas não um modelo de negócio 100% estruturado”, comenta sobre mais esse desafio para as empresas de games no metaverso.
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