Até mesmo quem não é muito dos podcasts ouviu falar nas últimas semanas sobre a tal da Mulher da Casa Abandonada. O programa, que teve criação e apresentação do jornalista Chico Felitti, é mais um daquelas famosas reportagens sobre casos criminais. Só tem uma “pequena” diferença: a série de áudios alcançou o renomado topo do ranking de podcasts mais ouvidos do Brasil no Spotify, apenas dois dias após seu lançamento.
Ao todo, já soma mais de 115 mil avaliações registradas no Spotify e os seis episódios acumularam cerca de 7 milhões de downloads — sendo os quatro primeiros com 1 milhão cada um. E essa febre diz muito sobre a forma como os brasileiros consomem itens relacionados a casos criminais, até mesmo conteúdo em áudio.
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Quem é a Mulher da Casa Abandonada?
Para quem está por fora, a Mulher da Casa Abandonada se chama Margarida Bonetti. Ela vive em um casarão abandonado no bairro de Higienópolis, local renomado e de alto padrão na capital de São Paulo. Durante o programa, Felitti conta como “Mari” leva sua vida nada tradicional dentro da mansão. Só que existe um adendo: Bonetti é foragida do FBI e veio se esconder no Brasil. E o motivo? Há mais de vinte anos, ela manteve uma mulher presa, em condições análogas à escravidão, nos Estados Unidos.
Ela e o marido, Renê Bonetti, respondem à uma série de acusações. A vítima foi alvo de constantes crimes contra a humanidade por anos, teve ossos quebrados e seus direitos básicos negados. Quando conseguiu escapar da casa do casal, denunciou o caso, mas apenas Renê foi detido. Margarida fugiu para o Brasil e se abrigou na antiga casa dos pais.
No bairro de Higienópolis, Bonetti era conhecida por causar aversões dos vizinhos. Usava uma pomada branca no rosto toda vez que saía de casa, além ter de obsessões e manias.. O podcast discorre tanto sobre o caso, que passa por situações desumanas, e sobre a própria vida de Margarida e suas particularidades.
Nas redes sociais, “A Mulher da Casa Abandonada” rendeu uma quantidade recorde de menções, a ponto de gerar um verdadeiro turismo até a mansão em Higienópolis. Centenas de pessoas visitaram o casarão para entender melhor o estilo de vida de Margarida Bonetti, tiraram fotos do local, pixaram os muros e causaram um intenso “reboliço”. Após a divulgação do podcast, segundo informações da UOL, a casa foi alvo de vandalismo e de tiros de arma de fogo — o que fez a mulher fugir da casa.
No fim de semana seguinte ao lançamento do podcast, o Instituto Luísa Mell inclusive entrou nos jardins da mansão para resgatar as duas cachorras mantidas pela mulher, sob denúncia de abandono.
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Por que repercutiu tanto?
Na semana de lançamento, “A Mulher da Casa Abandonada” foi um dos assuntos mais comentados no Twitter. Para se ter ideia, o caso teve tanta repercussão que os termos relacionados a ela apresentaram um aumento de 5.000% nas buscas do Google. Vídeos diversos foram criados por internautas para debater a história e até mesmo quem nunca tinha ouvido um podcast testou a experiência para saber mais sobre o conteúdo.
Esse fato ascendeu a curiosidade do brasileiro e fez notar o quanto casos criminais são famosos por aqui — a ponto de prender o público por cerca de 50 minutos para cada episódio. E a escolha da produção em áudio, com a dinâmica de storytelling do podcast, tornou tudo mais interessante. Em resumo: percebemos que o consumidor brasileiro gosta de uma narrativa envolvente e é bastante curioso sobre esses fatos.
Mas o real motivo de viralização é uma fórmula que tem feito sucesso por aqui: a união de um assunto fortemente debatido na sociedade — racismo, condição atual das empregadas domésticas e escravidão — com uma maneira misteriosa de apresentar os fatos, muito ligada aos documentários americanos sobre serial killers e crimes semelhantes.
A diferença é que esse marco sem dúvidas trata novos ouvintes para os podcasts e, de uma forma, guia a forma como as empresas podem explorar esse canal de comunicação com seus clientes. Agora está cada vez mais claro: o brasileiro gosta de um mistério, uma boa construção de narrativa e, sem dúvidas, de uma boa história polêmica.
A força do podcast como canal de relacionamento com o consumidor
Outro ponto importante a ser ressaltado é que o perfil de ouvintes de podcast é mais nichado — o que representa um potencial de aquisição e engajamento de clientes para as empresas. Em suma, o conteúdo via áudio tem se tornado uma estratégia de comunicação próspera com o consumidor, uma vez que o público que o escuta aprecia histórias mais elaboradas e longas.
O leque de oportunidades, dessa forma, fica mais ampliado: trazer curiosidades, debates que enfoquem a marca, conteúdo rico e aprofundado cria laços com o consumidor, o que, por consequência, favorece as ações da marca. E vale destacar também o potencial de integração com outros canais e estratégias de marketing, como aconteceu com A Mulher da Casa Abandonada — uma febre tão grande que até mesmo o local virou centro de visitação.
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