A mudança climática já tem seu bebê Johnson’s. No caso, uma menina sueca, agora nos seus 17 anos, que provavelmente deve enxergar o famoso xampu da centenária empresa americana como mais um vilão a ser combatido na defesa do meio-ambiente.
Greta Thunberg esteve em Davos, na Suíça, no papel que toda a corrente global de “ativistas”, “intelectuais”, “progressistas”, “liberais”, “esclarecidos” e “iluminados” gosta de vê-la: uma Joana D’Arc ambiental, pronta para professar a fé messiânica daqueles que desejam salvar o planeta destruindo a razão, confundindo cientificismo com ciência, e incentivando que a civilização retroceda a um passado bucólico, pastoril e campestre.
A combativa proto-autoritária da sustentabilidade exige o fim do uso de combustível fóssil. O mesmo combustível que movimenta pessoas, indústrias, produtos, progresso, inovação, política e negócios no mundo inteiro há mais de um século. Sua exigência é infantil, fruto daquele simplismo tão característico de jovens idealistas mundo afora. Bom, não é preciso ir tão longe: aqui mesmo na cidade de São Paulo, o pensamento mágico-ecológico produziu um atentado contra a ordem econômica e a liberdade de escolha ao vilanizar e proibir a oferta de copos, pratos e talheres de plástico para os consumidores. Um exercício de tardo-adolescência do prefeito da maior cidade da América Latina.
As exigências de Greta e a lei “antiplástico” do alcaide paulistano são exemplos de um fenômeno narrativo comum nos dias de hoje. O fato é que “mudança climática” tornou-se, juntamente com “desigualdade”, e “justiça social” conceitos verdadeiramente sagrados, revestidos de uma pureza inabalável, uma aura religiosa, como bem observou o implacável e genial conservador inglês Roger Scruton, falecido há poucos dias. Ao santificar esses conceitos, a ordem “ativista-progressista” procura estabelecer que qualquer pensamento crítico, mesmo que sólido e cientificamente embasado, seja visto como sacrilégio. Requisitar estudos mais conclusivos sobre o real alcance da mudança climática soa como heresia. Sugerir que a desigualdade é um conceito imperfeito porque implica na adoção de um jogo de soma zero é pecado venal. Argumentar que o percentual de pessoas vivendo com menos US$ 1,90 ao dia caiu de 28% da população mundial no ano 2000 para menos de 19% em 2018 ou que a mortalidade infantil até 5 anos decresceu de 1 em cada 11 crianças em 2000 para 1 em cada 26 crianças em 2018 (dados do Copenhagen Institute for Futures Studies), é uma traição irreparável.
Nesse sentido, um misto de obscurantismo deliberado e desonestidade intelectual, ter como ponta de lança uma criança é perfeito para sensibilizar corações e mentes. Afinal, crianças são um símbolo de esperança, a representação inocente do futuro da humanidade. Ou, por outro lado, meninas como Greta podem ser, até mesmo involuntariamente, um instrumento de manipulação narrativa da milícia “ativista-progressista”, exploradas com mentes e visões de mundo ainda em formação, com pouca experiência de vida ou lastro intelectual e emocional para compreender a complexidade do mundo atual.
A pequena Greta Thunberg é um personagem que assume o posto de heroína contra o capitalismo inescrupuloso que lhe “rouba o futuro” em uma narrativa bem construída. O objetivo desta narrativa é nublar o discernimento da opinião pública acerca do poder que a humanidade tem de construir soluções inovadoras para problemas complexos.
A história humana é de superação constante ao longo da evolução histórica: do ambiente hostil dos primórdios da evolução, à força da natureza, do domínio dos elementos da produção agrícola, do desenvolvimento da agricultura, à formação de estados e padrões monetários, de guerras sangrentas e doenças inomináveis até a corrida espacial que levou o homem à Lua. Isso significa que a mudança climática provocada pela ação humana é um desafio portentoso, mas similar a muitos outros enfrentados ao longo da jornada da humanidade na terra. Esse desafio pede mais ciência, mais pesquisa e mais inovação. Sem a criação de de mecanismos economicamente rentáveis, onde haja real geração de valor para empreendedores, não há chance do ideal sustentável tornar-se viável.
O poder de narrativas declamadas por personagens como a menina Greta cria, na verdade, obstáculos consideráveis para a busca de soluções possíveis, inteligentes, produtivas e rentáveis capazes de conter e minimizar os efeitos da mudança climática. Não se defende aqui que o ativismo da bebê Johnson”s do clima seja reprimido ou censurado, em absoluto. Mas antes é necessário que liberemos as amarras mentais que satanizam o lucro e o autointeresse como reais aceleradores e propulsores da inovação que atue decisivamente em favor da saúde do planeta.
Talvez seja a hora de Greta voltar para escola, da qual saiu para empreender sua jornada messiânica, aprender como fazer da luta contra a mudança climática um negócio promissor. E mais, um negócio escalável, capaz de trazer valor e bons hábitos, bem-estar e qualidade de vida, trabalho e saúde para os bilhões de habitantes do planeta. Exortação, palavras de ordem, nenhuma proposta coerente de solução e messianismo ralo podem atrair o interesse de muita gente, mas não produzem nenhum resultado prático.