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Aprenda a separar tendência de consequência

Aprenda a separar tendência de consequência

Começou já a todo vapor a temporada de “elaboração e divulgação de tendências”. Um conjunto imenso de chutes, especulações, palpites que oscilam entre a obviedade e a banalidade. É possível separar o joio do trigo?

Fato 1: estamos vivendo um período de transformações. Fato 2: o vetor dessas transformações é a pandemia do novo coronavírus, seu poder de contágio acelerado e universal, sua capacidade de provocar mortes em escala industrial. Fato 3: o poder do novo coronavírus desencadeou uma reação impensável para a grande maioria dos 8 bilhões de habitantes do planeta – isolamento e distanciamento social, metrópoles cosmopolitas quase desertas, milhões de empresas obrigadas a permanecerem fechadas, particularmente comércio e serviços.

Esses três fatos combinados provocaram ondas de choque que abalam as organizações e instituições políticas, sociais e econômicas do mundo e estimularam a imaginação de toda sorte de especialistas, consultores e palpiteiros mundo afora. Está aberta a temporada de caça às tendências que irão nortear o comportamento de consumidores, empresas, profissionais quando (e se) a pandemia for controlada.

A pergunta decisiva: como será o mundo após os estragos provocados pelo novo coronavírus?

Uma resposta elementar: o mundo será diferente, não será como antes.

A pergunta é direta, sem retoques e sem retórica: já as possibilidades que derivam da resposta elementar são múltiplas, variadas, convergentes em alguns aspectos, mas profundamente baseadas em uma observação empírica da realidade. Não há tantas referências e conhecimento histórico acumulado para que seja possível aplicar algum método válido para nosso contexto, nossa realidade e nosso momento.

Agora temos então de nos preparar para um mundo reconfigurado, onde as pessoas não mais se tocam, as compras são on-line, faremos reuniões presenciais em salas com papel, caneta, notebooks, álcool gel e máscaras, faremos happy hours brindando em frente às telas, evitaremos show, aglomerações, shopping centers, estádios e arenas esportivas, bares e restaurantes, aeroportos, o trabalho será mais produtivo no home office, empresas em escritórios serão um anacronismo, todos vamos ter hortas em casa, programas de renda mínima serão a tônica nas grandes economias do mundo e por aí vai.

Algumas dessas afirmações fazem sentido, outras espelham apenas efeitos de curto prazo derivados da nossa adaptação à pandemia. Em outras palavras: melhor não acreditar que toda consequência é uma tendência.

Tendência vs. Consequência

Tendência, de forma muito simples, é algum fenômeno, evento, causa que motive uma mudança sensível de comportamento em um agrupamento significativo de pessoas. A partir dessa definição, tendências podem ser confundidas com modismos passageiros, mas uma série de modismos que se originam a partir de um fenômeno podem se aglutinar em uma tendência. Diversas tendências combinadas formam uma megatendência que se consolida ao longo de um período de tempo maior, mais abrangente (conforme a metodologia do Copenhagen Institute for Futures Studies – CIFS).

Definir o que é tendência é infinitamente mais simples do que identificar uma tendência de fato. Ainda mais nesse período que vivemos é recorrente, vermos projeções de tendências. Mas qual delas realmente terá chance de ocorrer de fato?

Para responder a isso, é preciso ponderar diversas fontes de informação, ter paciência para observar fatos, fenômenos, manifestações culturais, comportamentos, atitudes, em diversas localidades e regiões, para então “calibrar” percentualmente a possibilidade de uma mudança de comportamento se cristalizar, não ser ocasional, fruto de um impulso ou de uma orquestração momentânea. É preciso ver se há indícios espalhados em uma janela de tempo maior que um mês, dois ou três meses sob a vigência de uma pandemia para “enxergar” uma chance real de que há uma mudança em curso e mais: o quanto essa mudança de comportamento irá se manifestar em diferentes dimensões – sociais, políticas, profissionais, mercadológicas, econômicas.

É forçoso reconhecer que nem todos – muito poucos aliás – têm tempo, concentração e oportunidade de fazer essa análise. Ainda assim, executivos e lideranças precisam saber separar as consequências ocasionais, momentâneas, excepcionais, das tendências que realmente vierem para ficar. De meu ponto de vista, enumero a seguir o que realmente será tendência após o fim ou controle da pandemia:

1. Vida digital

Sim, teremos uma vida mais digital, com diversas implicações – redução do tráfego urbano, reuniões virtuais, eventos on-line e busca por dispositivos de controle de saúde, bem-estar, comando e controle de tarefas rotineiras: compras, exercícios, dicas de entretenimento, investimentos, temperatura do lar, receitas, etc. Veremos uma aceleração desse modo de vida digital em diversos segmentos e perfis de população;

2. Saúde total

Cidadãos irão demandar saúde pública de qualidade e alta escala. Governos estarão diante de um desafio imenso: investir muito mais em saúde pública, em diversos níveis, incluindo exames, médicos, medicina preventiva, vacinas, hospitais, leitos, UTIs, medicamentos. Uma pressão formidável por aumento de custos em orçamentos apertados, comprimidos pela explosão de novas formas de trabalho que “burlam” ou contornam contribuições previdenciárias.

3. Lobalização

O termo “Lobal” representa uma tendência identificada pela grande Iza Dezon, da Dezon Consultoria Estratégica e partner da Peclers Paris. Em linhas gerais, representa uma forma de valorizar as conexões, culturas e manifestações locais, o que está próximo, vizinho, conhecido em contraponto ao que é pasteurizado, distante, desconhecido. O global se aproxima das comunidades locais e a cultura regional ganha o mundo, explorando valores universais, que criam enorme identificação a partir de conexões emocionais e autênticas.

Lobalização significa ver prevalecer esses vínculos de proximidade comunitários se espalhando mundo afora. Significa ver “Parasita”, filme coreano vencendo o Oscar, La Casa de Papel e seus símbolos representarem movimentos em diferentes países, duplas e cantores sertanejos amainarem a tensão e a ansiedade provocada pelo isolamento social por meio de lives. Lobalização é orgulho de disseminar o que identifica raízes e vínculos muito localizados em âmbito maior. Após a pandemia, o mundo será mais lobalizado e menos globalizado.

4. Reconexão

O isolamento, confinamento, quarentena e distanciamento social forçado, mudou rotinas de forma agressiva, extensa, inclemente. Esse processo está obrigado pessoas a reconectarem corpo e mente, executivos e famílias, pais e filhos, trabalho e bem-estar, macrocosmo digital e microcosmo residencial. E quando houver a possibilidade de um certo retorno à atividades normais – mesmo que com controles sanitários e de aglomeração – veremos empresas buscando se reconectar com consumidores, pessoas aprendendo a se reconectar com espaços físicos, com a cidade, talvez até com o meio-ambiente. Todos iremos despertar para a necessidade de reconectar pontos, decisões, expectativas, emoções, desejos com uma visão de mundo diferente. Será que veremos a humanidade se reconectar de fato com o planeta?

5. Solidariedade distanciada

Estamos vendo diversas ações solidárias de empresas e pessoas tendo em vista a procura por “curas”, terapias e ações que reduzam o sofrimento das pessoas e possam minimizar ou mesmo eliminar os efeitos do novo coronavírus. Bill Gates investindo bilhões na pesquisa de vacinas, Itaú Unibanco doando R$ 1 bilhão em serviços de saúde pública, Natura alocando instalações para fabricação de álcool em gel, Stone promovendo auxílio ao pequeno empreendedor, artistas fazendo lives, instituições financeiras prorrogando empréstimos, a lista é longa. Pessoas físicas, cidadãos também estão se empenhando em levar e doar o que podem para comunidades carentes. Todas essas são ações solidárias, que inspiram e mostram que é possível fazer o bem em amplitude maior.

Mas os efeitos do novo coronavírus certamente espalharão uma onda de solidariedade “digital”, com profusão de campanhas on-line, em formato de “crowdsourcing” para ajudar causas, doentes, comunidades, mobilizar redes de cidadãos dispostos a colaborar, mas sem a necessidade de confrontar a realidade de forma nua e crua. A solidariedade distanciada fará parte de nossa nova consciência, na qual é possível ajudar com a mediação de telas que “filtram” mazelas sociais, econômicas, de saúde.

No mais, é provável que seja precipitado afirmar que a humanidade renunciará ao toque ao afeto, ao contato físico permanentemente. Famílias confinadas exercitam o afeto entre si e nada indica que essa necessidade fique reprimida até que uma razoável sensação de segurança seja restabelecida. Em resumo, a nossa imersão digital forçada pela pandemia servira como filtro para aumentar nossa divisão social, apaziguar consciências, mas não mudará a natureza humana no que ela tem de mais essencial: nossa carência de aceitação, pertencimento e socialização.

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