Resposta de empresa de formatura não foi suficiente para Procon

Órgão quer saber se empresa tem responsabilidade no desvio de quase um milhão de reais que seriam para formatura dos alunos de medicina da USP

Natália Oliveira
4 min leitura
janeiro 20, 2023

O caso de Alicia Dudy Muller Veiga, de 25, suspeita de desviar quase um milhão de reais arrecadado dos alunos da Faculdade de Medicina da USP para a formatura, está repercutindo nas redes sociais e sendo investigado pelas autoridades competentes. A delegada responsável pelo caso, Zuleika Gonzales, afirmou na tarde desta quinta-feira (19), que a acusada, que era presidente da comissão de formatura, confessou o desvio. A possível prisão de jovem, está sendo analisada.

Na próxima segunda-feira, o Procon de São Paulo vai ouvir os esclarecimentos da empresa ÁS Formaturas para tentar entender qual instrumento jurídico autorizava a transferência dos valores pagos pelos alunos à conta pessoal Alicia, até então presidente da comissão. Os esclarecimentos serão prestados dessa vez de forma presencial, depois de o Procon ameaçar multar a empresa de formatura, por não responder de forma satisfatória os questionamentos feitos pelo órgão através de duas notificações. O Procon-SP quer saber ainda quais foram os critérios definidos para a movimentação dos valores entre a ÁS Formaturas e qualquer membro da comissão de formandos ou terceiros.

Caso a ÁS Formaturas não tenha zelado pelo patrimônio dos consumidores, ou seja, não tenha feito a guarda dos valores de modo adequado, ela poderá responder a processo administrativo. Se a ÀS não prestar os esclarecimentos requeridos pelo Procon, a empresa de formatura pode ser multada em até R$ 11 milhões de reais.

O imbróglio da ÀS Formaturas com o Procon é só mais um capítulo dessa história, que pegou de surpresa os estudantes da Turma 106.ª da Faculdade de Medicina da USP. O desvio milionário chegou ao conhecimento dos alunos no dia 6 de janeiro, quando eles foram informados por Alicia que os R$ 920 mil reais arrecadados tinham sido perdidos. O valor tinha sido arrecadado durante quatro anos para a festa que aconteceria no ano que vem.

Membros da comissão de formatura contaram à imprensa que Alicia solicitou a transferência dos valores para uma conta pessoal sem o aval de nenhum outro integrante do grupo ou conhecimento dos formandos. Alicia disse aos colegas que tomou essa atitude porque sentia que a ÀS Formatura não estava fazendo um bom trabalho. Segundo alunos da Universidade, a então presidente da comissão de formatura confessou ter investido o dinheiro com a corretora Sentinel Bank, mas teria sido vítima de um golpe.

Os alunos da comissão emitiram uma nota, na qual afirmam que Alicia descumpriu “o Estatuto ao movimentar esse montante sem a assinatura de nenhum outro membro e transferindo-o a uma conta pessoal sua” e que “a atitude não representa moral e eticamente a postura dos demais membros desta comissão e dos mais de 110 alunos aderidos”.

No dia 10/01 foi registrado um boletim de ocorrência contra Alicia na 14.º DP, em Pinheiros. O caso foi encaminhado ao 16º DP, na Vila Clementino, que está dando procedimento às investigações. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a suspeita é investigada por apropriação indébita no caso do desvio.

Lavagem de dinheiro e estelionato

Alicia Dudy Muller Veiga, de 25 anos, já era investigada por lavagem de dinheiro e estelionato. Ela foi denunciada por funcionários de uma lotérica onde, desde abril de 2022, vinha fazendo apostas diárias de cerca de R$ 9 mil reais. Alicia chegou a ganhar cinco vezes na loteria e faturar R$ 326 mil em premiações.

Em julho de 2022, quando ela já havia gastado mais de R$ 400 mil em apostas, Alicia tentou fazer um conjunto de jogos no valor de R$ 891.530 na Lotofácil, pagando “fiado”. Ela mostrou para os funcionários, que já a conheciam, um agendamento de transferência via Pix como “garantia de pagamento”. As funcionárias registraram os jogos e entregaram os comprovantes para a apostadora, mas a gerente desconfiou da situação e questionou a estudante sobre quando o dinheiro cairia. Mas, já era tarde demais.

Alicia já tinha recebido os comprovantes e saiu do local com os canhotos das apostas que conseguiu efetuar. A lotérica amargou prejuízo de R$ 192 mil reais e os donos decidiram procurar a polícia, que abriu um inquérito para investigar o caso.