Enquanto ainda somos impactados severamente pela pandemia, economias mais avançadas começam a mostrar como será um mundo com a Covid-19 sob controle. O otimismo nestes países aumenta conforme avança a quantidade de pessoas vacinadas, o que gera segurança sobre o emprego e consequentemente a confiança do consumidor. O horizonte que se abre nestes países traz novos comportamentos, com novas oportunidades e desafios para empresas e governos.
No intuito de trazer um olhar mais preciso sobre todas as possibilidades de um mundo pós-pandemia, a consultoria McKinsey examinou como vão os gastos do consumidor na China, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, dividindo eles por segmento e de acordo com idade e renda. Assim, são feitas análises de setores do consumo, possibilitando espectro geral dos novos comportamentos.
Diversos insights foram alcançados. O primeiro é o ponto de partida do consumo, que é retomado com a combinação de gastos contidos – que fizeram muita gente ter boas reservas – com pacotes de estímulos. Em um cenário de vacinação, esta combinação garante uma recuperação robusta, de acordo com a consultoria.
Contudo, o comportamento de consumo geral está fortemente impactado. Enquanto aqueles com renda mais elevada escaparam de muitos problemas da pandemia, os de renda mais baixa perderam emprego ou enfrentam incertezas. “Há uma polarização no consumo e aumento da desigualdade, especialmente nos Estados Unidos”, aponta o estudo.
Novos comportamentos
A pandemia está deixando marcas de longo prazo no consumo. Afinal, ela levou a maiores gastos com serviços, maior adoção digital, e uma série de mudanças comportamentais como economias e investimentos.
Para determinar se esses comportamentos têm probabilidade de persistir, o estudo observou seis mudanças de consumo que cobrem uma ampla gama da vida do consumidor – e que correspondem a quase três-quartos do consumo das pessoas. São eles: aceleração no e-commerce alimentício, queda acentuada no entretenimento ao vivo, alta dos cuidados com a casa (gastos com itens como academias domésticas, quintais e jardins, além de jogos), diminuição nos voos a lazer, mudança para o aprendizado remoto e aumento na telemedicina.
Em projeções para até 2024, a McKinsey prevê que aprendizado remoto, voos a lazer e entretenimento ao vivo voltem para os níveis pré-pandemia. Enquanto isso, três comportamentos se mostram consistentes: compras online de alimentos, telemedicina e cuidados com a casa. Enquanto os dois primeiros chegaram para ficar com a aceleração da adoção digital, os cuidados com a casa surpreendem por representarem uma reversão, uma vez que estava em declínio até o começo da pandemia nos países pesquisados.
“Esperamos que esse comportamento permaneça, já que uma parte das famílias de alta renda preferirá trabalhar em casa até certo ponto após a pandemia e as famílias de baixa renda devem manter alternativas domésticas de baixo custo, como entretenimento digital. Ao mesmo tempo, esperamos que muitos outros comportamentos interrompidos pela pandemia – viagens aéreas de lazer, educação presencial e jantares presenciais – sejam retomados, embora potencialmente com modificações da experiência”, aponta o estudo.
As modificações mais nítidas podem vir do turismo, da educação e dos restaurantes. Com a alta do trabalho remoto, pode haver impacto permanente nos voos, provocando alterações em horários, rotas e preços dos bilhetes. Na educação, um equilíbrio entre o ensino presencial e online deve manter o uso de ferramentas educacionais, enquanto os restaurantes devem adotar menus mais digitais, por exemplo.
A cara da recuperação
A pesquisa aponta que a recuperação tende a ser mais rápida e desigual nos Estados Unidos em relação aos países europeus. Isso se deve a programas de suporte para preservar empregos na Europa, que ocasionam jornadas de trabalho mais curtas por mais tempo. Ainda assim, a cara da recuperação depende das ações a serem tomadas de agora em diante por empresas e governos, segundo a McKinsey.
Regulamentações a serem definidas à telemedicina, por exemplo, vão definir quantos usarão o serviço, dando forma ao consumo. O mesmo acontece com mudanças comportamentais citadas – mas não abordadas – pelo estudo, como sustentabilidade. Neste segmento, o comportamento do consumidor vai depender de ofertas e papel dos governos, pois estes definirão a natureza dos produtos e preços, bem como dos incentivos para empresas e indivíduos escolherem bens e serviços.
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