O Brasil é um mercado que se destaca em alguns setores da economia, sobretudo pela cultura. Um deles é o mercado de bem-estar, conhecido também como Wellness, ao qual os brasileiros tendem a investir e utilizar com bastante frequência, à frente de outros países do mundo.
É o que diz o recente estudo “Feeling Good: The future of the $1.5 trillion wellness Market” (“Sentir-se bem: o futuro dos $1,5 trilhões do mercado de bem-estar”), da McKinsey. De acordo com a pesquisa, feita com 7,5 mil consumidores em seis países, 79% dos entrevistados acreditam que o bem-estar é importante e 42% consideram isso como uma grande prioridade.
No Brasil, a penetração do mercado é ainda maior. “Quando comparamos com países como os Estados Unidos, o Reino Unido, vemos que o tema de Wellness entra em 40% ou 50% nas top prioridades da vida das pessoas. No Brasil, nas nossas pesquisas, o futuro de Wellness entra como 75%, é um destaque desproporcional na importância que esse tema vem ganhando”, explica Mariana de Paiva Guimarães, associate partner da McKinsey & Company.
Expansão do que é bem-estar
A preocupação com o bem-estar e o entendimento do tamanho do mercado passou por algumas mudanças — fator que também ampliou as projeções de faturamento, diz o estudo. Hoje, o mercado de Wellness compreende seis categorias: saúde médica, saúde física, nutrição, estética e aparência, qualidade do sono e bem-estar psicológico — esse último conhecido também como “mindfulness”.
“Alguns anos atrás, o bem-estar era visto como a saúde médica, no sentido de estar com um bom funcionamento do corpo e fazer uma academia, com exercício físico. Era um conceito bem restrito e agora houve uma ampliação, bem-estar é sono, é saúde mental, nutrição etc.”, explica Mariana.
Ela ressalta também que a ampliação do conceito contribui para que o mercado cresça, assim como a mudança na forma como o consumidor enxerga o bem-estar em sua vida. “Isso passou a ser uma prioridade de fato na vida do consumidor, estar se sentindo bem e estar bem consigo mesmo passou a ter uma importância muito relevante na vida das pessoas e isso se traduziu na forma como as empresas engajam seus funcionários e criou um ambiente que propicia e estimula essa prática.”
Em todas as seis categorias, a expectativa global do mercado é que haja crescimento de 5 a 10% em 2021. E o motivo para o aumento, explica Mariana, está relacionado a uma importância gradativa sobre a importância de sentir-se bem. “Essa é uma tendência que já vinha de dois a três anos, a Covid-19 só aumentou a consciência e as intenções para frente. Não é um tema novo, ele só foi reforçado. Cada vez mais as empresas vão ter que se mover para atuar sobre isso e repensar como elas posicionam os produtos.”
O mercado de Wellness no Brasil
No Brasil, o crescimento do mercado de bem-estar apresentou um crescimento ainda maior durante a pandemia. O estudo mostra que o investimento do brasileiro chega a ser duas vezes maior que os outros países pesquisados.
“A tendência de crescimento dessa preocupação no Brasil é muito maior. Estimamos, por meio da pesquisa, que o brasileiro gaste em média 1.200 reais por ano com bem-estar. Isso, quando fazemos uma relação per capita, é duas vezes maior do que o gasto em outros países. Ou seja, não só o tema é maior, como também isso se reflete na disposição de como o brasileiro está disposto a gastar”, destaca Mariana.
Por causa da pandemia, além de investir nas categorias voltados à exercício físico e aparência, Mariana explica que o brasileiro passou também a investir em saúde médica. “A gente sempre soube que brasileiro se preocupa muito com o mundo fitness, de aparência. Mas o curioso é que, na nossa pesquisa, nesse momento de Covid-19, as dimensões que mais se destacaram dentro dessa penetração da disposição de gastar foi a de saúde médica. Isso tem um pouco a ver com o valor desses serviços aqui, mas você vê que, em outros países, dimensões como a aparência e até mindfulness, tem uma relevância desproporcionalmente menor do que tem para o brasileiro.”
E a tendência, explica a pesquisa da McKinsey, é que esse gasto se mantenha ou aumente, englobando todas as categorias do mercado de Wellness. “Vimos que mais ou menos 50% dos consumidores estão dispostos a gastar mais, a aumentar o que eles já gastam com o corpo e com a mente. 30% deles não pretendem aumentar o gasto, mas querem manter o que despendem hoje. Ou seja, 80% dos consumidores vai ou manter ou aumentar o que eles têm gastado com Wellness no pós-pandemia”, completa.
De acordo com o estudo, entre todas as seis categorias do mercado, apenas a de nutrição tem baixa aderência no Brasil, algo que está começando a mudar, mas terá que percorrer um longo caminho. “Estamos caminhando só agora para nos importar com uma alimentação melhor e gastar mais com esses alimentos. Isso já é muito mais evoluído lá fora, aqui estamos alguns passos para trás”, conclui Mariana.
As gerações e o contato com o mercado de Wellness
A nível global, a pesquisa mostra que a relação de consumo muda de acordo com as gerações. Entre as tendências destacadas, o uso de produtos mais naturais chama a atenção e isso vale especialmente para as gerações mais novas, como os Millennials e a Geração Z.
“Essa consciência de que você precisa estar bem consigo mesmo veio muito com a geração dos millennials e a geração Z. Se você pensar, toda essa pegada de aparência natural, de trabalhar e usar materiais orgânicos, veganos, é ainda mais proeminente nessas gerações”, explica Mariana.
A pesquisa também aponta que a personalização é algo recorrente em todas as gerações. No Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha, mais de 88% dos consumidores priorizam um produto ou serviço personalizado com mais frequência do que desejavam dois ou três anos atrás.
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