Se quando você escuta o nome da atriz e produtora norte-americana Reese Witherspoon tudo que vem à sua mente é alguma cena dela interpretando uma advogada toda vestida de cor-de-rosa no filme “Legalmente Loira”, de 2001, saiba: está na hora de atualizar seus conceitos. Hoje, a atriz nascida na cidade de Nova Orleans é uma dos nomes mais poderosos da indústria do entretenimento dos Estados Unidos, rivalizando com gente como Oprah Winfrey, por exemplo.
Tudo graças ao fato de acumular, em seus últimos trabalhos como atriz e produtora séries de prestígio e audiência. A mais recente delas é “Little Fires Everywhere” ou “Pequenos Incêndios em Toda Parte”, originalmente produzida pelo canal Hulu, mas que no Brasil é distribuída pelo streaming da Amazon Prime.
O drama conta com oito episódios e traz Reese novamente na dobradinha produção + interpretação. Desta vez, no entanto, ela divide a cena (e os bastidores de gerenciamento executivo) com Kerry Washington, outra estrela da TV. Na trama adaptada do livro homônimo de 2017, Reese interpreta Elena Richardson, uma mulher de classe média-alta que vive em uma cidadezinha de Ohio, no interior dos Estados Unidos.
Ela está levando a mesma vida de sempre, dividindo o tempo entre as tarefas de casa e seu trabalho em um insípido jornalzinho local, quando uma mulher negra e sua filha decidem se mudar para a região. Ela é a artista Mia Warren, mãe de uma adolescente chamada Pearl. As duas vivem, basicamente, com tudo que tem dentro de um carro velho. E vão de cidade em cidade, se mudando de acordo com os humores (e os segredos) de Mia.
QUESTÕES RACIAIS E DE CLASSE SOCIAL
Ambientando nos anos 90, “Pequenos Incêndios Por Toda Parte” traz bem o espírito do tempo atual – principalmente em um momento marcado pelas manifestações anti-racistas que tomaram o mundo desde o caso de violência policial contra um homem negro, George Floyd, ocorrido na cidade americana de Minneapolis, no fim do último mês de maio.
Na trama do seriado, Elena acaba alugando uma casa que possui para Mia e Pearl morarem. A convivência da adolescente e os filhos de Elena – ela é mãe de quatro adolescentes – também estreita a relação com Mia, apesar de serem completamente diferentes. A simpatia inicial, por parte da dona-de-casa, logo se transforma em suspeita e o clima de animosidade entre as duas – Elena e Mia – vai dando o tom da narrativa conforme assuntos como maternidade, ascensão social e racismo afloram. Não é preciso nem mencionar, porém, a qualidade dos diálogos e da interpretação das duas atrizes, que são, de fato, dos nomes fortes da indústria do entretenimento dos últimos anos nos EUA.
COLECIONADORA DE SUCESSOS
Além de “Pequenos Incêndios Por Toda Parte”, que já virou hit mundo afora (a atração chegou ao Brasil em 22 de maio e também causou burburinho por aqui), Reese Witherspoon assina duas outras atrações recentes de enorme prestígio. São elas “Big Little Lies” (2017-2019), seriado da HBO que era para ter apenas uma temporada, mas acabou ganhando uma sequência com a presença de ninguém menos que Meryl Streep no elenco.
Não que o time de mulheres protagonistas não fosse já impecável com Nicole Kidman, a própria Reese atuando, além de Zoe Kravitz, Shailene Woodley e Laura Dern – a ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante deste ano Na trama, cinco mulheres de uma região nobre da Califórnia escondem um segredo que liga uma a outra e o espectador acompanha o desenrolar dos acontecimentos que levam a um crime.
Temas como violência doméstica, infidelidade, maternidade e o papel social da mulher são tratados através do suspense e das relações entre essas personagens. A série foi muito bem sucedida e levou quatro Globos de Ouro, entre eles o de Melhor Série, no ano de 2018, além de um tanto de estatuetas do Emmy em 2017.
Na sequência, Reese Witherspoon já emendou outro sucesso: “The Morning Show”, outro seriado de pouco episódios, desta vez para a Apple TV+. Ao lado de nomes como Jennifer Aniston (que também é produtora executiva da atração), Steve Carell e Billy Crudup, ela atuou no drama sobre casos de assédio em um programa matutino de TV.
O roteiro foi fortemente influenciado pelos acontecimentos pós-movimento do Me Too, que varreu a indústria do entretenimento norte-americana com denúncias, as mais graves delas envolvendo o executivo Harvey Weinstein, atualmente preso. “The Morning Show” seguiu o caminho de reconhecimento tanto da crítica quanto do público, mesmo o streaming da Apple ainda não sendo tão popular quanto o da HBO ou da Hulu, por exemplo. Tanto que Jennifer Aniston acabou premiada com o Screen Actors Guild Awards de 2020 como Melhor Atriz em Série de Drama.
Enquanto séries lutam para sobreviver na roda-vida da competição por audiência com tantos canais de streaming e de TV, além dos diversos lançamentos no cinema (agora paralisados por conta da pandemia de Covid-19), as produções assinadas por Reese Witherspoon navegam plenas, firmes e fortes, colhendo a simpatia do público e se mostrando relevantes ao mundo. Como profissional, ela conseguiu chegar no equilíbrio perfeito de atuar naquilo que realmente a mobiliza como artista, sem deixar de usar seu talento como produtora.
Enquanto esse texto é feito e você navega pelo site, saiba que Reese tem ao menos outras três outras produções engatilhadas quase prontas para sair do forno. Como profissional, ela sabe dividir o crédito de seus sucessos, trabalhar em parceria e levantar bandeiras. Não raro fica amiga pessoal de boa parte de suas colegas de set. Quer ter sucesso? Acho que está na hora de prestar mais atenção nessa na profissional que deixou de ler “legalmente loira” para ser mesmo é “toda-poderosa” em Hollywood.
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