A ESG é uma sigla muito falada no meio dos negócios há algum tempo. Mas, mais do que nunca, as organizações que pretendem se manter competitivas e alinhadas com o seu público precisam compreender esse conceito e aplicá-lo o quanto antes.
A sigla se refere aos três principais fatores para medir o índice de sustentabilidade e impacto social de uma organização: em inglês, environmental, social and governance; em português, ambiental, social e governança. A sua análise pode determinar como a empresa se posiciona em relação ao planeta e a sociedade em que está inserida.
Manter uma operação sustentável e responsável com a sociedade não é mais uma opção para as empresas, e quem ainda acredita que a preocupação com o meio ambiente é uma pauta com viés político precisa rever seus conceitos.
“Os investidores no Brasil e no mundo estão percebendo a importância de fazer investimentos em empresas que não sejam apenas lucrativas, mas que tenham uma responsabilidade social e que conduzam seus negócios de forma sadia para o meio ambiente e a sociedade como um todo”, afirma Leandro Rosa, sócio-fundador da assessoria em investimentos GR Capital.
O mercado de investimentos trabalha atualmente com a ideia de investimento ESG, ou seja, aquele que incorpora práticas ambientais, sociais e de governança como critérios na análise de uma empresa. Isso quer dizer que não basta mais para uma organização pensar apenas em seu desempenho econômico e financeiro. “É um movimento natural da maturidade do investidor e da sociedade”, diz Rosa.
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A origem do ESG
Embora as discussões sobre o meio ambiente não sejam recentes, foi no início do século 21 que a questão se tornou uma pauta obrigatória nas conversas entre governos e na iniciativa privada.
A sigla ESG apareceu pela primeira vez em dezembro de 2004 no relatório “Who Cares Wins – Connecting Financial Markets to a Changing World” (em português: Quem se Importar Vence – Conectando o Mercado Financeiro para Mudar o Mundo), desenvolvido pelo Departamento Suíço de Assuntos Exteriores em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU) e o apoio de vinte grandes bancos e instituições financeiras. O Brasil foi representado pelo Banco do Brasil.
O documento propunha uma nova forma de analistas, investidores, consultorias e instituições financeiras avaliarem as empresas na hora de investir. Na prática, foi a sugestão de uma nova cartilha de regras e recomendações para que as questões relacionadas à ESG fossem levadas em conta.
O movimento fez efeito. Em 2006 surgiu o Principles for Responsible Investment (PRI), uma rede global de investidores institucionais apoiada pela ONU, que disseminou o conceito de investimento responsável, aquele que leva em conta a sustentabilidade. Em 2021, isso ganha ainda mais peso.
O que significam ambiental, social e governança na prática
Os três pilares ESG analisam o posicionamento da organização. Quando se fala em práticas ambientais alguns exemplos de questões levantadas são:
- Como é a feita a utilização de recursos naturais;
- Como são descartados os resíduos do seu processo industrial;
- Como é a emissão de gases na atmosfera (e quais são eles);
- Qual o nível de poluição produzido;
- Há desmatamento e reflorestamento;
- Como é a utilização da água;
- Que tipo de energia é utilizada.
Já por práticas sociais o questionamento pode ser:
- Como a organização se relaciona com a comunidade em que se encontra;
- Como são suas políticas de trabalho;
- Como é o relacionamento com os funcionários e qual o comprometimento dos mesmos com o propósito da empresa;
- Existem treinamentos e planos de evolução da equipe;
- Como a organização trata os direitos humanos e a legislação trabalhista;
- Como é o relacionamento e o atendimento aos clientes;
- Existe preocupação com a privacidade e a proteção de dados.
Enfim, sobre governança pode ser avaliado:
- Como é composto o conselho administrativo;
- Qual o nível de independência do conselho;
- Como são remunerados os executivos;
- Como é formado o grupo que faz auditorias;
- Há transparência na divulgação de dados;
- Qual o tipo de relacionamento a organização possui com governos e políticos.
Conceito precisa evoluir no Brasil
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado em julho de 2020 mostra que a maioria das empresas brasileiras que investem em sustentabilidade estão apenas pensando em obter uma imagem institucional melhor.
Segundo o estudo, 59,4% das organizações deram essa justificativa, enquanto 54,3% afirmaram que investem com o objetivo de se adequar aos códigos ambientais. O estudo mostra que as empresas brasileiras ainda não entenderam a relevância de ser sustentável e responsável socialmente.
“No Brasil ainda estamos começando a adotar esse conceito, diferente da Europa, onde eles estão mais avançados e até já criaram produtos específicos nesse sentido”, aponta Leandro Rosa.
Mas há uma evolução em andamento. “A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) está desenvolvendo várias normas regulatórias e o mercado financeiro está se movimentando. No último ano foram criados no Brasil cerca de dez fundos de investimento baseados no conceito de ESG, isso não existia antes”, afirma.
O número de investidores que incluem ESG em suas avaliações tem aumentado ano a ano. Hoje o PRI, por exemplo, já possui mais de 3 mil signatários no mundo todo. Além disso, os próprios consumidores estão passando a exigir que empresas e marcas tenham posturas responsáveis e deixem isso claro.
A exposição das organizações no ambiente digital e o mundo altamente globalizado e conectado torna cada vez difícil a omissão das empresas em relação a algumas causas. Na hora de optar por um produto o compromisso do fabricante pode pesar na escolha do consumidor, principalmente os mais jovens e engajados membros das gerações Y e Z.
Por que é preciso investir em ESG
Leandro Rosa resume em uma frase a importância do conceito ESG: “Uma empresa socialmente responsável tem mais valor de mercado”. Ele cita o exemplo da mineradora Vale do Rio Doce, uma das maiores do mundo, que perdeu valor de mercado em relação às suas concorrentes por contas dos acidentes envolvendo suas barragens.
“Os investidores preferem empresas que oferecem menos riscos. O ESG não é só uma teoria. É parte do negócio e é uma avaliação importante para o investidor hoje em dia e será cada vez mais no futuro”, diz.
Segundo Rosa não existe um segmento específico que pode apostar no ESG. Qualquer empresa pode pensar assim, até porque não se trata apenas de uma questão ambiental, mas de cultura e processos que sejam mais igualitários e tenham responsabilidade social.
“Ninguém quer mais investir em uma empresa que represente um risco ambiental ou que não tenha um dia a dia sadio e igualitário para seus funcionários”, explica Rosa. “O investidor se sente mais seguro e a organização tem um valuation maior quando ela está exposta a menos risco, sejam eles regulatórios ou ambientais. Isso se reflete a longo prazo”, complementa.
Em agosto de 2020, o The New York Times destacou como Fundos ESG cresceram mais que fundos tradicionais na bolsa de Nova York mesmo durante a pandemia.
De acordo com uma pesquisa da RBC Capital Markets divulgada pelo jornal, no geral 64% dos investimentos baseados em ESG superaram seus benchmarks (valores de referência), contra 49% dos fundos tradicionais na primeira semana de agosto.
A lentidão das empresas no Brasil pode ser vista como um atraso, mas também é uma oportunidade. Aquelas que se adequarem mais rápido e deixarem isso claro para a sociedade e, principalmente, para os seus clientes podem se destacar da concorrência e crescerem ainda mais.
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